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Category Archives: Educação

O que esta experiência propicia são novas relações sociais. Sentimentos de pertença e sorrisos infantis que participam e se alegram. Politização pela arte e arte politizada. Expressão cultural e reivindicação expressa de novos tempos. Encontro de pessoas e pessoas que se encontram na própria origem. Por Tiarajú – Mestre de Bateria 

Foi Candeia quem avisou: outra escola de samba é possível. Eram meados da década de 1970, e as escolas de samba já haviam entrado no circuito da mercantilização e na ditadura do visual. Processos estes que, com o passar do tempo, viriam a se aprofundar. Candeia, bom sambista que era, não gostou. Fundou ele mesmo uma escola de samba, a G.R.A.N. Quilombo, cujo objetivo principal era defender a participação do povo com suas manifestações culturais dentro das escolas de samba. 

Passadas algumas décadas, é da mão daqueles que pensam que outra sociedade é possível, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, que se articula um outro formato de escola de samba: a Unidos da Lona Preta. 

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Crianças da Comuna Urbana de Jandira

 

Fundada em 2005, a Unidos da Lona Preta surge com o objetivo de congraçamento militante, de festejo compromissado. Num tempo de desesperança, de indivíduos individualizados, percebia-se como o encontro e o fazer coletivo são elementos fundamentais para a construção do reconhecimento de pertença e o auto-reconhecimento enquanto classe. E de fato, o samba desde sempre fundamentou esse reconhecimento. Eis que a Unidos da Lona Preta se consolida. E apesar das dificuldades, existe bravamente. 

Em meados do ano de 2008, percebe-se a necessidade de realizar um salto qualitativo no âmbito dessa expressão cultural. Algumas mudanças ocorrem: os ensaios passam a ser realizados na Comuna Urbana Dom Hélder Câmara, em Jandira, que passa a ser a sede e referência da escola; os ensaios de bateria passam a ter regularidade; forma-se uma roda de samba, a Comuna do samba; inicia-se um processo de formação que envolve samba, literatura e política; buscam-se apoios e fazem-se rifas para a compra de mais instrumentos; envolvem-se jovens de todos os assentamentos e da vizinhança da Comuna Urbana; convidam-se aliados do MST para participar das atividades. Tantas mudanças, somadas à empolgação e ao desejo de concretizar o esforço coletivo culminaram na confecção de um samba-enredo coletivo, o já famoso Avante Juventude, e, por fim, no apoteótico desfile de 20 de fevereiro de 2009, com 500 pessoas tomando festivamente as ruas de Jandira. 

Mas o carnaval, como sempre, passou… todos e todas dormiram depois da festa, e ao acordar, o mundo seguia igual, com suas mazelas, injustiças e misérias. O sucesso do processo coletivo até o carnaval e do próprio desfile eram irrefutáveis. Mas era necessário ir mais além. A Unidos da Lona Preta passa a pensar o mundo e a pensar-se com mais rigor. Era necessário entender esse estar no mundo. Dúvidas surgem, dilemas se colocam. O próprio processo nos perguntava para onde caminhar. Como o samba, com muitos instrumentos, mas sem ser instrumentalizado, ensaia a bateria e o processo de transformação social? Como a arte se coloca no mundo, questionando-o para além do simbolismo estético? Seria possível aliar poesia e porrada? 

Tantas perguntas oriundas de tanto fazer… e as respostas vão se apresentando aos poucos, como as rimas perfeitas para o desenlace das estrofes. 

A Unidos da Lona Preta não faz samba-festinha, faz samba-luta.
Arte popular não é indústria cultural assim como cuíca não é teclado.
Nosso grupamento carnavalesco é uma escola de samba, e não um bloco. 

Mas então – perguntaram-nos alguns – para ser escola de samba terão que ter dinheiro, brilho e mulher pelada? A resposta foi rápida e simples: quem disse que escola de samba é somente o pastiche visual vendido pela transmissão da televisão? E quem disse que as escolas de samba sempre foram entremeadas por financiamentos e hierarquias? Hoje as escolas de samba têm um formato que de fato não é o que mais propicia a participação popular. É uma totalidade contraditória assim como nossa sociedade. Mas quando a Unidos da Lona Preta deixa de se pensar como escola de samba é porque aceita que só existe o formato hegemônico atual para essa expressão cultural. Então vamos disputar o conceito sim, porque a Unidos da Lona Preta ensina samba, então é escola de samba. E ponto final. 

Nosso samba é resistência, mas não fica nesse reducionismo romântico. O samba é ataque e contra-ataque também. Tabelinha bem feita na entrada da área e chute certeiro no ângulo. Olhem a proliferação de amantes do gênero. Percebam a existência de rodas de samba nos quatro cantos e quatro ventos. Verifiquem a quantidade de comunidades do samba que surgiram nos últimos anos em toda São Paulo, fenômeno social derivado justamente da mercantilização das escolas de samba. Percebam que mesmo mercantilizadas, industrializadas e financeirizadas, as escolas de samba seguem lotadas e mantendo comunidades próprias (apesar da TV e das modelos…). Quadro complexo companheiros… samba não quer compadecimento de ninguém porque, concretamente, não precisa. 

Para o carnaval de 2010, a Unidos da Lona Preta afinou ainda mais seus instrumentos político-percussivos. Uma série de debates com batucadas sobre a denominada Questão Urbana será o manancial fértil para a composição coletiva do samba enredo. A idéia é que todos e todas as participantes se apropriem do tema a ser cantado e contado. Este processo visa fazer diferente do processo de confecção do desfile das escolas de samba atuais, que é alienado e alienante uma vez que não permite que o seu produtor, ou seja, o compositor, o ritmista e o folião, se aproprie do produto final de sua própria produção cultural. Hoje em dia, o participante de uma escola de samba executa um projeto por outro construído, ou seja, alheio a si mesmo, e sendo apenas parte de um todo que este produtor não tem possibilidade de entender e acessar. Todo esse processo descrito vincula-se também à própria profissionalização do carnaval e ao caráter competitivo do mesmo, o que se desdobra na dependência das escolas com relação às ligas e aos patrocínios que condicionam o fazer artístico. Na tentativa de defender a liberdade de expressão e manifestação artística, a Unidos da Lona Preta optou também por não participar de concursos nem fazer parte de ligas de escolas de samba. Pois é compas, como podem notar, fazer samba-militante é cansativo, exige decisões, escolhas, mas é mais gratificante também. 

No fundo, o que esta experiência propicia são novas relações sociais. Sentimentos de pertença e sorrisos infantis que participam e se alegram. Politização pela arte e arte politizada. Expressão cultural e reivindicação expressa de novos tempos. Encontro de pessoas e pessoas que se encontram na própria origem. Candeia já tinha avisado: um povo sem passado é um povo sem futuro. E nós, humildemente, mas convictos, vamos fazendo nossa parte. 

Unidos da Lona Preta, a luta fazendo o samba; o samba fazendo a luta.

confira o samba em videos e fotos.

Fonte: Passa Palavra

A Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), projeto artístico-pedagógico que se firmou como referência para a formação de atores no Brasil e que se aproxima agora dos seus 20 anos de enraizamento na cidade, acaba de ter seu coordenador, o ator Edgar Castro, sumariamente demitido.

Nesta sexta-feira, onze de setembro, artistas representantes dos principais coletivos de artes cênicas das cidades de Santo André e São Paulo – entre os confirmados as atrizes Maria Alice Vergueiro e Leona Cavalli, o ator Antônio Petrim, os diretores Francisco Medeiros e Cibele Forjaz – farão um ato público em prol da manutenção do projeto artístico-pedagógico original, que se encontra ameaçado.

Internacionalmente conhecida por seu projeto inovador desde sua fundação, em 1990, a ELT foi idealizada pela artista-pedagoga Maria Thaís Lima Santos, (hoje professora doutora da USP e coordenadora do TUSP), e coerentemente transformada pela experiência e pelos diversos mestres que passaram por ela tais como: Luis Alberto de Abreu Antonio Araújo, Tiche Vianna, Francisco Medeiros, Cacá Carvalho, Renata Zhaneta, Cibele Forjaz, Cláudia Schapira, Denise Weinberg, Sergio de Carvalho. Da palavra “Livre” – presente no nome da Escola – emerge um campo pedagógico próprio, que pressupõe o conceito de deliberação coletiva, derivado do contínuo diálogo entre mestres, aprendizes e funcionários (constituintes legítimos da comunidade ELT), num processo de não-hierarquização, radicalmente contrário a imposições.

Desde o final do ano passado, após a eleição do atual prefeito Dr. Aidan Ravin, a comunidade da Escola Livre de Teatro tem se reunido para conhecer o projeto cultural para a cidade de Santo André. Em 28 de novembro, organizou um ato público, o Encontro Cultural da Cidade, quando se esperava como convidado principal Dr. Aidan Ravin. O então futuro prefeito não compareceu, mas fez-se presente através de seus assessores e do vereador recém eleito Gilberto do Primavera, que firmou publicamente seu compromisso com a cultura da cidade e com a manutenção do projeto original da ELT.

No entanto, como primeira medida, designaram para escola uma nova coordenadora não pertencente ao quadro de mestres e desconhecedora do projeto em curso. Em assembléia geral da escola, em 3 de fevereiro de 2009, com a presença de toda comunidade ELT e da coordenadora, o atual Secretário de Cultura, sr. Edson Salvo Melo, não só reiterou a continuidade do projeto artístico-pedagógico como também acenou a reforma física do prédio da ELT, readequando o espaço para as atuais necessidades da escola.

Passados oito meses da nova gestão, de contínuas tentativas de diálogo entre a comunidade, a coordenadora sra. Eliana Gonçalves e os funcionários também recém transferidos para a escola, encontros mediados pelo coordenador Edgar Castro (mestre da escola há 11 anos), fomos surpreendidos por esta repentina demissão feita pelo diretor de cultura Sr. Pedro Botaro no dia oito de setembro.

Os artistas entregarão uma carta ao Secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, sr. Edson Salvo Melo. Vamos solicitar que se reveja a demissão de Edgar Castro – escolhido democraticamente pela comunidade escolar e com ampla aderência de todos – e que se possa dialogar sobre a presença da Sra. Eliana Gonçalves.

O Circuito de Exibição de Vídeo Popular integra o Projeto do Vídeo Popular aprovado na edição 2009 do programa VAI da prefeitura municipal de cultura.

Além do Circuito, integram o projeto a Revista do Vídeo Popular e a III Semana do Vídeo Popular 2009. O Circuito de Exibição busca somar os esforços de diversos coletivos atuantes em São Paulo. São 24 pontos de Exibição espalhados por São Paulo e cidades vizinhas como Jundiaí / São Carlos.

A idéia do circuito é, além de levar o audiovisual às comunidades, possibilitar as diversas discussões postas pela produção popular, em foco no projeto: formação cultural, direito à expressão, valorização da identidade e da memória das comunidades envolvidas.

As exibições ocorrerão no dceOcupado espaço de vivência, ao lado do Restaurante Central (Bandeijão). Todas as terças e quintas-feiras de julho às 21:00h.

Após cada seção bate papo com os produtores e participantes dos trabalhos.


Abertura – 02 /07 Quinta feira

Cinema de Quebrada
Direção: Rose Satiko
Realização: Lisa – Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP
Duração: 47 min

Sinopse: Jovens Moradores da periferia de São Paulo apresentam o cinema como meio de expressão e de reflexão. Nas quebradas, fazem e exibem vídeos, questionando as representações midiáticas da periferia e construindo novas imagens a partir de suas experiências.

07/07- terça feira

Videolência
Direção: NCA
Realização: NCA
Duração: 60 min

09/07 quinta feira

Vaguei com os livros e me sujei com a m…

Direção: Akins Kinte, Allan da Rosa, Matheus Subverso Duração 30min.

Daqui nois num arreda o pé.

Direção: Rinaldo Teixeira Duração: 20min

14/07 terça feira

A Carne
Direção: Fernando S. Soares e Rosi
Realização: NCA
Duração: 8 min

Merreis
Direção: Filipe Freitas e Leandro HBL
Realização: Filipe Freitas e Leandro HBL
Duração: 17 min

Pela Metade
Direção: Ana Divino
Realização: Cinema de Guerrilha
Duração: 5 min

Foi sonhar com ela
Direção: Julio Fonte
Realização: Cinema de Guerrilha
Duração: 5 min

Onomatomania
Direção: Diego F.F Soares
Realização: NCA
Duração: 3 min

Programa Bola e Arte – Morro Dona Marta/RJ
Direção: CarlosCarlos
Realização: Programa Bola e Arte
Duração: 13 min

Sujeira em casa traz doenças
Direção: Coletiva
Realização: Favela é isso ai. Duração: 5 min

16/07 quinta feira

Em Busca do Gozo Perdido
Direção: Alex Mountfort e Fernando Rodrigues Frias
Realização: Oficinas Culturais Oswald de Andrade
Duração: 15 min aprox

Pari
Direção
: Coletiva
Realização: Coletivo Nossa Tela
Duração: 13 min
Na Real do Real
Direção: Coletiva
Realização: Favela Atitude Duração: 10 min Duração: 10 min


21/07 quinta feira – seção infantil

Velho bola murcha
Direção: Rodrigo Eba
Realização: Grafitti com Pipoca
Duração: 5 min

Sem terrinha em movimento

Roteiro e direção: Coletiva – Setores de Educação, Cultura e Comunicação do MST Realização: Setores de Educação, Cultura e Comunicação do MST Duração: 17 min .

Tudobolô
Direção: Diogo Noventa
Duração: 14 min

Coxinha: um amor salgadinho
Direção: Camila Verdum, Ingrid Gonçalves, Juan Borges Berruesco, Lorenço Menezes Vieira, Melina Galvão, Regiane Bueno, Renata Cristina Freire, Idrani Taccari, Rafael Lobato
Realização: Oficinas Kinoforum. Duração: 4 min

Sobre frutas e garotas
Direção: Coletiva
Realização: Oficinas Kinoforum Duração: 5 min


Nhanhonhama Paulista
Direção: Diego F.F Soares
Realização: Diego F.F Soares. Duração: 3 min

Acadêmicos do Morrinho Parte 1
Direção: Coletiva
Realização: TV Morrinho Duração: 4 min

Acadêmicos do Morrinho Parte 2
Direção: Coletiva
Realização: TV Morrinho. Duração: 4 min

Sujeira em casa traz doenças
Direção: Coletiva
Realização: Favela é isso ai. Duração: 5 min

23/07 quinta feira

Sobreviva
Direção: Rodrigo Paschoalin
Realização: Oficina Básica de Criação Audiovisual e Cineclube Consciência – Jundiaí
Duração: 09 min
Ano: 2008


O Grande Vencedor
Direção: Jucélio Santos
Realização: Cine Favela
Duração: 15 min


Pai nosso dos cineastas
Direção: Henrique Bouduard
Realização: Henrique Bouduard
Duração: 5 min

Desencontros
Realização: Cinescadão
Duração: 4 min

Katmandu
Direção: CarlosCarlos
Realização: NSA
Duração: 14 min

A Viagem
Direção: Rômulo dos Santos Paulino
Duração: 12 min

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Produção: Thais Scabio, Gilberto Caetano e Rafael Trevigno. Direção: Thais Scabio Roteiro: Thais Scabio e Gilberto Caaetano. Realização: Cavalo Marinho Audiovisual LTDA Duração: 17 min  Ano: 2007 Gênero: comédia

28/07 terça feira

O Preço da luz é um roubo
Direção: Coletiva
Realização: Brigada Audiovisual da Via Campesina
Duração: 9 min

Marcha dos 5000
Direção: Nicolau Bruno
Realização: MTST
Duração: 9 min

A Luta Continua
Direção: Coletiva
Realização: Movimento do Vídeo Popular – Goiânia – GO
Duração: 10 min

Futebol a arte do Real
Direção: Coletiva
Realização: Movimento do Vídeo Popular – Goiânia – GO
Duração: 10 min

Um fechar de olhos

Direção: Gilberto Caetano e Arnaldo Malta

Realização: Núcleo de Cinema e Vídeo Com-Olhar Duração: 11 min

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral.

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por Olgária Mattos

A militarização do campus universitário da USP e a solução de conflitos através da força atestam o “esquecimento da política”, substituída pela ideologia da competência, entendida segundo o modelo da gestão empresarial, com seu culto da eficiência e otimização de resultados. Também a proposta mais recente da reforma da carreira docente e do projeto da implantação da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), respondem, cada qual à sua maneira, à “produtividade”, os acréscimos salariais dos professores subordinando-se ao número de publicações e a seu estatuto— se livro, capítulo de livro, ensaio em revistas, se estas se ajustam ao “selo de qualidade” das agências de financiamento; número de congressos; soma de palestras; orientações de teses e dissertações e, sobretudo, se estas obedecem ao prazo preconizado, tanto mais exíguos quanto mais os estudantes chegam à Universidade desprovidos de pré-requisitos à pesquisa,como um conhecimento adequado do português para fins de leitura e escrita universitária, (guardadas as exceções de praxe), bem como acesso a línguas estrangeiras. De fato, a Universidade se adapta às circunstâncias do ensino médio, e o mestrado pretende contornar as deficiências da formação no ensino médio (e fundamental também), que incidem nos anos de graduação, convertida em extensão do segundo grau.

Professores e estudantes cedem precocemente a publicações, sem que haja nelas nada de relevante, e, ao mesmo tempo, devem freqüentar cursos ou prepará-los, realizar trabalhos correspondentes, desenvolver suas teses – uma vez que a quantidade consagra pontuações para futuras bolsas de iniciação científica ou aprovação de auxílios acadêmicos. Quanto aos docentes, estes se ocupam cada vez mais com tarefas de secretaria, como preenchimento de planilhas, elaboração de relatórios, propostas de inovação em cursos não obstante ainda em vias de implantação, acompanhamento de iniciação científica, organização desses congressos, participação em atividades de iniciativa discente, preenchimento de pareceres on line de um número crescente de bolsistas, e por aí vai. No que diz respeito ao ensino à distância, ele não responde à democratização da Universidade mas a sua massificação.

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral. Este encontra-se na base da transformação do intelectual em especialista e da docência como vocação em docência como profissão. O saber técnico é o do expert que transmite conhecimentos sem experiência, cujo sentido intelectual e histórico lhe escapa. Assim como no processo produtivo a proletarização é perda dos objetos produzidos pelos produtores e perda do sentido da produção, a especialização pelo know how é proletarização do saber. Por isso o especialista moderno se comunica por fórmulas, gráficos, estatísticas e modelos matemáticos. Foucault reconhece seu primeiro representante em Oppenheimer que enunciou o projeto Mannhathan – que levou à bomba-atômica – em termos simpaticamente técnicos.

A “Universidade do Conhecimento” perverte pesquisa em produção. Quanto à educação à distância, ela não significa um apoio ao conhecimento e seu acesso a regiões distantes, mas sim o fim de toda uma civilização baseada nos valores da convivência, da sociabilidade e da felicidade do conhecimento.

Fonte: Carta Maior

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“Onde há PAZ, há CULTURA. Onde há CULTURA, há PAZ.”

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VIVA A UNIVERSIDADE CULTURAL !!!

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O jeito Serra de tratar as universidades

O jeito Serra de tratar as universidades

É difícil encontrar um projeto bem-sucedido e de largo alcance do governador José Serra, talvez nem exista. A fama que ele ostenta de bom administrador, deve-se menos ao fato de realmente sê-lo que da mídia hegemônica e marketing político. Até hoje Serra e a “grande” imprensa creditam na sua conta, indevidamente, os programas de combate à aids e dos genéricos, no fundo mera apropriação midiática. O primeiro é de iniciativa dos médicos Adib Jatene e Lair Rodrigues, o segundo do também médico Jamil Haddad.

Serra não tem projeto para São Paulo, apenas de poder, da mesma forma que seu partido pretendia ficar 20 anos no Palácio do Planalto. Ficou 8, mas o estrago valeu por 20. Sendo assim, não podendo colocar em funcionamento essa tecnologia de apropriação indébita de idéias alheias e com ela tomar posse do ProUni – tampouco podendo despersonalizá-lo, tendo em vista sua aprovação pública – para inflacionar seu discurso eleitoral Serra criou a Univesp, e criou-a da maneira como governa: por decreto. Pior, da maneira como o PSDB pensa a educação: não pensa – a educação em São Paulo é o melhor cartão de visita factual do significado de quase 20 anos de PSDB no Palácio dos Bandeirantes, ou, ainda, o clima de terra arrasada  nas universidade federais durante o período em que Paulo Renato Souza esteve à frente da pasta do Ministério da Educação.

Tendo em vista isso, escrevemos o artigo que segue sobre a Univesp, onde procuramos demonstrar o tamanho da irresponsabilidade que ela significa na sua atual configuração, irresponsabilidade que nem mesmo a ambição desmedida de José Serra pelo Planalto poderia justificar. Afinal, esse projeto não mira a educação pública do Estado, mas tão somente 2010. Aliás, como dissemos, o único projeto do governador de São Paulo é ser presidente da República custe o que custar, e já está custando muito, a educação, o desrespeito com que trata as universidades e a Univesp estão aí para comprovar.

Porque somos contra a Univesp

Lançamento da Univesp

Lançamento da Univesp

No início deste ano(2009) o governo do Estado criou, através da Secretária do Ensino Superior, a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). A Univesp é um consórcio entre as três universidades paulistas – USP, UNESP e UNICAMP – que irá oferecer cursos em EaD (Ensino a Distância) e cursos semi-presenciais.

O projeto é alardeado pelo governo do Estado como uma forma de ampliar e democratizar o acesso à universidade pública – que finalmente ele reconhece elitizado-, bem como uma medida para aumentar o número de professores graduados na rede de ensino público – que agora é reconhecido como precário.

Estudantes, professores e funcionários se colocaram contra esse projeto por entender que apesar dele surgir do reconhecimento de demandas importantes da sociedade – democratização do acesso à universidade pública e a tentativa de melhorar o ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo, um dos mais precários e caóticos do Brasil – ele não resolverá nenhuma delas, ao contrário, é uma medida que agrava ainda mais as desigualdades e aprofunda o processo de sucateamento do ensino, que é fruto de pelo menos 14 anos de gestão do PSDB em São Paulo.

O que é EaD? Nossa greve é contra a EaD?

EaD é o chamado ensino a distância, graduações em EaD são graduações que utilizam  recursos tecnológicos – filmes, internet, tele-aulas, recursos audiovisuais  etc.–, para oferecer cursos sem a estrutura presencial – prédios, laboratórios, professores ao vivo e sala de aula – que é base da educação brasileira até então. Tais cursos foram criados e são ministrados no exterior para atender a casos particulares e específicos nos quais é IMPOSSÍVELfornecer a estrutura presencial, casos como: presidiários, deficientes físicos com sérias impossibilidades de locomoção, pessoas que moram em lugares muito isolados geograficamente, pessoas que precisam de horários flexíveis para dedicar-se ao curso. Um exemplo muito conhecido de EaD no Brasil é  o Telecurso 2000.

Gilberto Dimenstein

Gilberto Dimenstein

Diferente do que pessoas como Roberto Dimenstein – o jornalista é uma pessoa que literalmente conhece o ensino a distância, bem a distância, talvez por isso diz o que diz sobre a Univesp e a educação – e tantos outros têm constantemente falado na mídia, nossa greve não é contra a implementação de EaD na universidade. Na verdade lamentamos o fato de que até hoje não houve um real esforço no sentido de garantir infraestrutura para recursos de EaD em nossos cursos presenciais, assim como lamentamos que nada se tenha feito para possibilitar o oferecimento de cursos de extensão a distância. A EaD já poderia ser uma ferramenta importantíssima para garantir mais cursos abertos e gratuitos para a população, bem como poderiam ser ministrados cursos que buscassem ampliar e atualizar professores de básico, médio e fundamental.

A questão é que mesmo tendo feito pouquíssimos esforços até hoje na implementação, de forma paulatina e responsável, de recursos para o ensino à distância nas universidades públicas, o governo do Estado, em vésperas de eleições, quer abrir no próximo semestre (agosto de 2009) cinco mil vagas para cursos de licenciatura a distância.

Dessa forma, não nos colocamos, em nenhum momento, contra a implementação de cursos por EaD, nem mesmo contra o uso de recursos tecnológicos na educação, estamos contra este projeto absolutamente precário, mesmo quando toma-se como base de comparação outros cursos de EaD.

Univesp e a democratização do acesso à universidade pública.

Portanto, não se trata aqui de negar a importância dos recursos tecnológicos do ensino à distância na busca por democratizar o acesso à universidade. Mas reconhecer que tal recurso tem grandes limitações. Reconhecer a importância da relação professor-aluno, aluno-aluno, reconhecer a necessidade da interação na sala de aula, da importância de um ambiente universitário para suscitar o pensamento crítico, reconhecer que a sala de aula é um espaço não de mera transmissão de conhecimento, mas um espaço de debate e de produção de conhecimento. Reconhecer as limitações de cursos pré-preparados que não podem se alterar durante o percurso, que não levam em conta a vivência e conhecimento que cada estudante já tem e o quanto isso pode ser importante dentro da sala de aula. Reconhecer, portanto, que o ensino a distância deve ser usado, mas não pode almejar substituir ou se igualar ao ensino presencial. O que afirmamos e defendemos não é que não devem ser oferecidos cursos à distância, mas que tais cursos têm sim uma perda de qualidade em relação ao ensino presencial, e sua aplicação deveria se dar na complementação do ensino presencial ou em casos excepcionais.

Muitos podem argumentar que o desempenho dos cursos a distância no ENADE é superior a grande parte dos ensinos presenciais, mas não hesitamos em dizer que isso não prova a qualidade de nada. É um erro acreditar que se pode medir a qualidade de ensino unicamente por uma prova, ainda mais tendo em mente que essa prova é boicotada pela maior parte das universidades públicas. Não nos surpreende em nada que alunos de EaD tenham desempenho razoável no ENADE. Arriscamos dizer que buscando comprovar sua eficácia tenham sido pensados desde o princípio com base no currículo cobrado nesta prova. É necessário levar em conta o desempenho do EaD na área de pesquisa, avaliar sua estrutura (laboratórios e bibliotecas) para poder ponderar a questão. É necessário atentar que a maior parte dos cursos de EaD oferecidos no país não tem qualquer investimento em pesquisa, que rompem o tripé que garante a qualidade das universidade públicas: Ensino, Pesquisa e Extensão.

O programa Univesp está sendo implementado sem a contrapartida de investimentos em centros tecnológicos espalhados pelo estado, levando as graduações a distância a lugares isolados geograficamente. A estrutura utilizada inicialmente é a das próprias universidades, o que limita o programa a áreas próximas de onde existem atualmente campis de universidades estaduais. A Univesp vai levar o ensino a distância para lugares onde já existem vagas na universidade pública, no entanto elas não suprem a demanda social. Aqueles que moram em áreas remotas, onde o ensino presencial não existe, em um primeiro momento, não são alvo da Univesp. O que mostra o caráter de inclusão social do programa.

Nesse sentido, somos contra o uso de tais recursos.

Para democratizar o acesso de fato, a universidade deve começar a debater programas sérios de inclusão, deve reconhecer que o Inclusp é mero programa de fachada e não está possibilitando que negros, indígenas e pobres ingressem na universidade. Chegou a hora da universidade reconhecer que o problema não é apenas a falta de vagas, mas também a forma como tais vagas são distribuídas. É completamente despropositado, para não dizer hipócrita, acreditar que se está operando uma democratização do acesso, quando na verdade o ensino superior que atingirá as populações mais pobres é um ensino diferente, cheio de restrições, precário e de baixo custo.

É duvidoso acreditar que a Univesp irá suprir demandas históricas de populações desfavorecidas, minorias e classes populares. O que reivindicam essas pessoas e os movimentos sociais que lutam por elas é o acesso à mesma universidade que nós temos. Com a mesma infra-estrutura, com os mesmos benefícios de assistência estudantil (bolsas, bandejão, moradia etc.) e com o mesmo prestígio.

E isso significa questionar a forma de seleção sobre a qual opera o vestibular. Implica começar a debater o uso de políticas de cotas, que já são implementadas em 39 universidades no país, sendo que no nosso estado sequer começamos a debater seriamente o tema. Somos contra esse projeto porque ele é a mudança para ficar como está. Visa manter as universidades estaduais como ilhas, reservando seu ensino de qualidade a determinadas classes sociais, ou seja, basicamente àquelas que podem dispor de capital cultural pré-exigido no vestibular.

O projeto não democratiza o acesso porque cria duas universidades, uma, com ensino de excelência, para a elite com projetos de pesquisa e bolsas da Fapesp e da Capes; e outra, virtual, para o resto da população. É a mudança para que a USP continue exatamente como está.

Univesp e formação de professores

Recursos de EaD podem, sem dúvida, ser uma forma de aproximarmos a precária escola pública do ensino de excelência das universidade estaduais, e nós defendemos isso. No entanto, o que o governo do Estado propõe é que tais cursos sejam voltados para formar profissionais que já atuam na rede, bem como abrir cursos de acordo com a demanda de professores na escola pública.

É necessário começar pelo fato de que as limitações do EaD são ainda maiores quando se trata da formação de professores. Não nos parece absurdo duvidar da formação de um educador (maior parte das vagas são na área de pedagogia) que foi formado fora do lugar no qual trabalhará a vida toda. Se para qualquer curso a sala de aula é um espaço importante e sua supressão tem consequências danosas para o processo educativo, em cursos de licenciatura isso é ainda mais problemático. A sala de aula e a relação aluno-professor é a base da formação em educação e sua extinção é inaceitável.

No entanto, a formação de professores que já estão na atuando na rede pública, mas não possuem ensino superior, é uma possibilidade a ser levada em conta, ainda que com cautela, posto que eles já possuem experiência na atuação em sala de aula. Mas é preciso que o professor tenha condições adequadas para isso, sabemos que a maior parte dos professores nessa situação são os remanescentes do magistério, sendo crucial levar em conta que, devido a sua idade mais avançada, talvez tenham dificuldades para utilizar ferramentas tecnológicas, e isso não é  levado em conta no projeto. É igualmente preciso reconhecer que uma parte considerável de professores trabalha em dois turnos, às vezes até mais, e que para que sua formação fosse feita com a qualidade devida seria importante uma redução na jornada de trabalho, dando-lhe tempo para se dedicar aos estudos.

A abertura de vagas visando suprir as demandas do ensino público é ainda mais questionável, posto que primeiramente deixa claro que tais professores têm lugar certo. Afinal, alguém acredita que as escolas particulares, consideradas muito à frente das públicas no quesito qualidade, iriam contratar professores formados a distância?

A UNIVESP antes de ser um exemplo de atenção e preocupação com o ensino médio público, pela forma unilateral de sua implementação e ausência de discussão acadêmica, é a prova do completo descaso com o mesmo. Posto que, serão os professores de nossa rede pública a primeira experiência com esse método, no projeto fica claro que cursos de Pós e MBA só serão oferecidos após um ano de estabilização dos cursos de licenciatura.

Ou seja, o governo do Estado está implementando, a toque de caixa, um projeto sem que se tenha tempo para preparação e estruturação adequados. Como o projeto está proposto, a formação de professores da rede pública dar-se-á num primeiro momento como “ratos de laboratório”. Nós questionamos essa irresponsabilidade, uma vez que traz o risco de comprometer diversas gerações, vítimas de professores mal formados. Será que isso por si só não é razão suficiente para que se discuta mais antes de implementar a Univesp?

A implementação do EaD pela gestão tucana de São Paulo, desde o princípio, vem par e passo ao descaso com a profissão do professor e com a educação. Nem a escola fundamental escapa do choque de gestão tecnocrata, como mostra Deliberação CEE Nº 77/2008 que possibilita que no Ensino Fundamental(!!!) até 20% das aulas sejam ministradas a distância. O descaso começa no simples fato de reconhecerem que tal profissional pode ser substituída por uma televisão, sem qualquer prejuízo pedagógico (no projeto da Univesp a relação aluno professor é comparada à relação espectador e ator de televisão). Se levarmos em conta como o projeto está, tudo se agrava, uma vez que os cursos são um verdadeiro “tubo de ensaio” para a educação, pois inexiste qualquer estudo sério sobre o impacto dessas medidas.

A implementação de EaD como melhoria do ensino médio e fundamental público não atinge de fato as questões que ocasionam sua precariedade. A má formação de professores é apenas uma delas, mas que não pode ser entendida sem levar-se em conta as más condições de trabalho e o baixo salário que geram a migração dos professores mais preparados para as escolas particulares ou municipais. Questões como a falta de materiais bem elaborados, falta de acompanhamento dos alunos especiais (alunos de inclusão, com déficit de atenção ou traumas psicológicos), crescente violência nas escolas, falta de incentivo dos alunos etc., passam ao largo das políticas desse governo, que em 14 anos foi incapaz de fazer avançar  os ensinos médio e fundamental a patamares pelo menos razoáveis. Não por acaso a educação é um dos pontos mais frágeis do tucanato paulista, levando o governador Serra enfiar goela abaixo a Univesp, cuja intenção verdadeira mira 2010, não o ensino público de qualidade. Ele precisa se contrapor ao ProUni e ao EaD, que são projetos consolidados do Governo Federal, uma vez que neste caso não há como apropriar-se da idéia de outro como fez com os genéricos e o programa de combate contra a aids.

Por outra universidade

impossível_uspRecentemente o blogueiro e apresentador Marcelo Tas perguntou “O que querem os estudantes da USP”. Queremos defender a universidade pública, a educação e a cultura deste país. Por isto os estudantes estão contra esse projeto. Sabemos que é possível elaborar políticas mais enérgicas na solução de tais problemas, bem como sabemos que essa medida visa unicamente maquiar dados para as eleições de 2010. Somos contra porque queremos soluções e não dados politicamente corretos. Somos contra porque nossa luta de trazer mudanças para a população vai além da mera inclusão formal.

Agora o desafio que está posto para nós é buscar elaborar outro projeto, teremos que fazer o trabalho do governo e da universidade, tendo em mente demandas históricas da população paulista que há muito tempo são defendidas por nós e ignoradas por eles. Um projeto que tenha medidas de inclusão efetivas, que seja baseado em um convênio entre escolas e universidades públicas, e possa de fato levar o ensino superior para pessoas e lugares nos quais ele nunca esteve.

Encerramos fazendo uma suposição: levemos em conta tudo o que expusemos anteriormente seja puro preconceito, que a UNIVESP consiga formar professores com qualidade e oferecer cursos que não deixem nada a desejar para os cursos presenciais. Caso isso aconteça, o que é duvidoso sem mudanças no vestibular e investimentos em melhorias do ensino público, é certo que irá acontecer o que já ocorre com a maioria dos professores formados pela USP: irão migrar para a rede particular, além de trazer a relação perversa da Fuvest para a Univesp, ou seja, a relação candidato/vaga ficará alta o suficiente para manter a população carente, mais uma vez, fora da universidade.

Por Universidade para quem?

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Editorial Correio da Cidadania

A presença de Antonio Candido no ato público de apoio à greve dos funcionários administrativos da Universidade de São Paulo deu ao movimento um novo significado: não se trata apenas de uma justa reivindicação salarial; trata-se do resgate de um sonho.

Antonio Candido é uma das mais brilhantes e legítimas expressões da geração de intelectuais que sonharam com a possibilidade de transformar o Brasil em uma verdadeira Nação. Isto não poderia ser feito sem um instrumento de reflexão, de debates, de diálogo democrático entre pensamentos opostos – enfim, sem um “ambiente” verdadeiramente universitário.

Que aquela geração de uspianos foi fiel ao sonho, atesta-o a sanha dos militares contra seus professores e alunos nos anos da ditadura; que o sonho ainda perturba os setores reacionários da sociedade, dão testemunho os comentários assustados que a respeito da fala de Antonio Candido têm saído na imprensa burguesa.

Esta fala teve o mérito de oferecer ao movimento grevista – e a todos, professores e alunos, inconformados com a situação atual da universidade – uma perspectiva mais ampla e gratificante do que a mera reivindicação corporativa. Sem mencionar diretamente o assunto, Antonio Candido colocou a reivindicação dos funcionários na visão maior do lugar da Universidade no país.

Salários adequados; carreiras universitárias; laboratórios; instalações; verbas para pesquisa. Tudo isto é necessário, mas não vale nada se não houver “clima universitário”. E não há “clima universitário” sem independência política e financeira da Universidade.

O que está havendo na USP é a deterioração do “clima universitário” e o culpado é o sutil processo de privatização que seus atuais dirigentes impulsionam. Tal processo provocou a fissura, que se estabeleceu entre professores e departamentos financiados pelo capital privado para fazer pesquisas, de um lado, e professores sem recursos para fazê-las de outro.

A docilidade dos “financiados” às fontes de seus recursos responde pela alienação política da maioria do alunado, e o avanço da privatização reduz os recursos públicos para atender às legítimas reivindicações de professores, alunos e funcionários administrativos da instituição.

Não há como escapar dessa contradição nem como contorná-la sem trazê-la à tona e sem travar em torno dela uma disputa política aberta, porque ela só poderá ser resolvida com a vitória dos que consideram a existência de uma intelectualidade livre e independente, política e financeiramente, a primeira condição para a construção de um Estado-Nação.

A presença de um intelectual do porte de Antonio Candido no campus da USP deu o tom da disputa que precisa ser feita: a população de São Paulo quer uma universidade para formar operadores das grandes empresas capitalistas ou para servir ao povo brasileiro?

Fonte: Correio da Cidadania

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Vídeo produzido por um grupo de estudantes independentes da USP.

“Não representaremos ninguém, nem os fatos. Atos não serão aqui apresentados, e sim representados. Toda representação é, em si, falha.”

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RELATO DO ATAQUE DA PM À USP NO DIA 09/06/2009

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os
policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções.

A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria  estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de  concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas).

Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A
multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio.

Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação
de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira), autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário. Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Prof. Dr. Pablo Ortellado

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Debelado foco guerrilheiro na USP

USP

Em primeiro plano: guerrilheiro comunista se prepara para desferir um ataque cruel contra os soldados.

A Força Pública de São Paulo em um ato de bravura e dedicação ímpar a Pátria, venceu com brilhantismo e galhardia a feroz batalha contra os guerrilheiros comunistas que haviam tomado de assalto a USP e lá estabelecido um núcleo guerrilheiro em pleno território da prosperidade e do altivo progresso econômico que é essa verdadeira Suíça brasileira.

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Combatente comunista desferindo cabeçadas covardemente contra as mãos dos soldados quase lhes causando fraturas no pulso.

A ação comunista começou quando um grupo de guerrilheiros fortemente armados tentou emboscar alguns soldados que apesar de estarem em menor número resistiram bravamente, impondo forte baixas aos inimigos vermelhos.

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Guerrilheiro pesadamente armado com um caderno recheado de explosivo plástico se prepara para atirá-lo nos PMs.

Logo, voluntários patriotas da Força Pública que defende São Paulo cerraram fileiras na luta contra os combatentes marxistas e mesmo com seu armamento modesto, mas com muita bravura, fora derrotando pouco a pouco os subversivos e graças a sagacidade de seus comandantes, os policiais lograram êxito em capturar um dos líderes de guerrilha, elemento extremamente perigoso.

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Um dos principais líderes da guerrilha capturado pelas forças de seguranças sendo levado para interrogatório. A CIA já enviou um representante para obter mais informações sobre o grupo.

Com muita tenacidade, os representantes da Lei e da Ordem, foram conseguindo virar o jogo, apesar de terem começado o combate em situação inferior.

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Desesperados, os comunistas arremessavam flores envenenadas na tentativa de matarem os soldados de alergia ou choque anafilático.

Já em fuga, os combatentes ilegais marxistas tentaram se refugiar na FFLCH mas foram sitiados e derrotados e o triunfo coube aos leais defensores dos homens bons aos quais parabenizamos e emocionados agradecemos.

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Além de perigosos os comunistas eram mal educados e soltavam pum em grande quantidades obrigando os soldados e espargirem Bom Ar no ambiente para poderem respirar melhor.

Avantes irmãos soldados do bem com fé suprema em São Serapião, aqui não há quem vos derrote e nem quem desafie vossa galhardia! Alvíssaras!!!

Fonte: Blog do Professor Hariovaldo Almeida Prado * com algumas alterações.

EXIGÊNCIAS DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP – 10/06/2009

1. renúncia imediata da Suely Vilela do cargo de reitora da USP;

2. retirada imediata da Polícia Militar do campus;

3.adoção de medias firmes para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve;

4. início imediato de um processo de estatuinte democrático.


DiretasJaDECLARAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP DE 10/06/2009

A Universidade de São Paulo tem desrespeitado, há anos, no seu cotidiano e nas suas instâncias de decisão, o Artigo 206 da Constituição Federal que define o princípio da gestão democrática do ensino público.

O desrespeito fica evidenciado pela ausência de diálogo sempre que deliberações de Conselhos de Departamentos, Congregações e do Conselho Universitário acontecem sem a devida participação de alunos, docentes e funcionários. Nos últimos meses testemunhamos algumas dessas deliberações que, no lugar do diálogo, impõem de maneira autoritária suas decisões, gerando conflitos e desgastes desnecessários entre as partes envolvidas: demissão política de um dirigente sindical, o ingresso da USP na Univesp, a reforma estatutária da carreira, as mudanças no exame vestibular, entre outras. As três últimas, aliás, foram tomadas sem razões acadêmicas que as sustentem.

A crise atual vivenciada pela USP, originada pela negociação de data-base, como vem acontecendo nas negociações dos últimos anos, a ausência de diálogo exacerbada pela ruptura por parte do Cruesp da continuidade da negociação, culminou com a solicitação, por parte da reitoria da USP, da presença da Polícia Militar, provocando a violenta repressão que vivenciamos na tarde de ontem no campus Butantã da USP.

Em função dessa sucessão de acontecimentos:

“Os professores da Universidade de São Paulo, reunidos em Assembléia no dia 10 de junho de 2009, em face dos graves acontecimentos envolvendo a ação violenta da Polícia Militar no campus Butantã, vêm a público exigir:

1. a renúncia imediata da professora Suely Vilela como reitora da Universidade de São Paulo;

2. a retirada imediata da Polícia Militar do campus;

3. que a nova administração adote uma medida firme para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;

4. que se inicie também imediatamente um processo estatuinte democrático.

São Paulo, 10 de junho de 2009.

Adusp – Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

diretasprareitor

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NOTA PÚBLICA DA ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO USP/Capital – 4 de junho de 2009

A Universidade de São Paulo, campus Butantã, desde o início desta semana, vem servindo de cenário para insólitas operações da Polícia Militar. Por pelo menos três dias, contingentes de policiais armados, colocaram-se a entrada de prédios de seus órgãos administrativos, faculdades, institutos, museus e bibliotecas. Essas operações seguem a execução de um pedido de reintegração de posse por parte da Reitoria da USP. Em nota, a medida é justificada sob o argumento de que o “funcionamento da universidade” teria sido transtornado por ações “isoladas”, “tumultuosas” e “violentas” de obstrução do acesso a prédios da universidade por “piquetes”, atribuídas a um “grupo de servidores”. A Reitoria, então, reivindica a sua responsabilidade em manter a regularidade do funcionamento da universidade.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP, em comunicado publicado no mesmo dia, respondeu à nota da Reitoria contestando as descrições e qualificações dadas às manifestações de seu movimento que, atualmente, encontra-se em greve, conjuntamente com os funcionários da UNICAMP, em prol de uma lista de reivindicações que eles não julgam contempladas pelas propostas do Cruesp. O SINTUSP afirma que nos acessos aos prédios citados só havia faixas com os dizeres “Estamos em Greve” e, em algum deles, encontravam- se também “Comissões de Orientação e Esclarecimentos”, compostas por funcionários das respectivas unidades que lá estavam por deliberação da assembléia dos funcionários da USP. As ações do movimento teriam sido todas baseadas em “decisões legitimadas em reuniões de unidades e assembléias gerais da categoria”.

choque

Fotos de batalhões policiais armados na USP colocam, agora, de maneira emblemática e à vista de todos, a cultura política vigente na atual estrutura de poder da USP diante das reivindicações da comunidade acadêmica. Emblemáticas porque condensam em imagem uma série de outras medidas que compõem um movimento mais amplo de avanço de forças reacionárias às demandas de democratização da universidade. Nesse sentido, basta lembrar que das últimas nove reuniões do Conselho Universitário (Co), cinco foram realizadas em área militar (IPEN), sob forte esquema de segurança. Some-se a isso, que tais reuniões foram marcadas por graves problemas na convocação da representação discente e de servidores, além de violações a normas regimentais, principalmente no tocante ao procedimento das votações. A recorrência desses fatos e as suas conseqüências extremamente anti-democráticas levaram a APG-USP/Capital a recorrer à Justiça, impetrando um mandado de segurança pedindo a anulação da reunião em que foi aprovado o orçamento da universidade para 2009.

Há ainda de se elencar o novo plano de segurança da USP, orçado em mais de 2,5 milhões de reais, tocado pelo ex-prefeito do campus, prof. Adilson Carvalho. Em reportagem de uma revista semanal, em que é fotografado ao lado de uma central de monitores de televisão com imagens da universidade e apelidado de o “xerifão do campus”, ele declara: “Apesar de muitos estudantes afirmarem o contrário, a polícia entra na USP sempre que é chamada”. Em outra reportagem, esta publicada no Jornal do Campus, instado a comentar a suspeita de um estudante de que o sistema de câmeras de segurança pudesse se reverter em “uma forma de vigiar o movimento estudantil”, o Prefeito nega, mas relativiza: “Elas vão ser usadas, claro; para identificação quando houver excessos.” As recentes políticas de segurança da USP precisavam de um esclarecimento: a presença da polícia no campus são necessários diante dos problemas enfrentados pelos freqüentadores da Cidade Universitária ou são instrumento de investigação e perseguição política? Contudo, infelizmente, não foi nos dada a oportunidade de ouvir as razões da Prefeitura do Campus, que negou o pedido de audiência pública feito formalmente pela APG-USP/Capital, em Conselho Universitário realizado no dia 30 de setembro de 2008.

Podemos ressaltar, ainda, as sindicâncias sofridas por alunos que participaram da ocupação da reitoria de 2007; as diversas restrições, por parte dos órgãos administrativos da universidade, ao uso dos espaços do campus pelos estudantes e suas diversas entidades; a invasão da Faculdade de Direito do Largo São Francisco pela Tropa de Choque em agosto de 2007; a implantação de catracas; a censura realizada diretamente pela reitoria ao STOA (fórum digital da USP); as demissões sumárias de servidores e diretores de sindicato dentro da universidade. Poderíamos continuar listando inúmeras outras manifestações da atual política vigente na USP, porém preferimos voltar nossa atenção ao movimento mais amplo a que todas elas remetem.

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Em 2007, começou a transcorrer nos Conselhos Centrais da USP a discussão sobre a reforma do Estatuto da USP. As forças do movimento pela democratização da universidade –representadas pelo movimento de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos– encontrava-se, então, completamente alijado do processo de discussão da reforma do Estatuto. A principal conquista do movimento de ocupação da reitoria de 2007 foi o compromisso, por parte da reitoria, de realização do V Congresso da USP, que acabou sendo agendado para maio de 2008. Esse movimento voltou para o V Congresso as suas esperanças de se articular em torno de um projeto concebido democraticamente por todos os segmentos da universidade, conseguindo, assim, disputar o processo de reforma do estatuto da USP, já em curso naquele momento. Na melhor das hipóteses, ganharia força o projeto de uma estatuinte democrática. Como bem se sabe, o V Congresso não se realizou porque a reitoria não liberou, em sua totalidade, o segmento dos funcionários. A não-realização do V Congresso foi a senha para que os grupos descontentes com as conquistas do movimento de ocupação da reitoria e, mais particularmente, com a idéia de se ampliar a discussão da reforma do estatuto, avançasse para estabelecer a sua hegemonia política dentro da universidade. O marco –não só simbólico, mas também jurídico– desse acontecimento foi o Conselho Universitário extraordinário do dia 28.05.08, o primeiro a ser realizado no IPEN, com graves problemas na convocação da representação discente e dos funcionários.

A pauta se resumia à discussão de um parecer elaborado pela Comissão de Legislação e Recursos (CLR) do Co respondendo a uma consulta, a posteriori, sobre um pedido da Reitoria da USP pela entrada da polícia militar no campus. O prédio da reitoria encontrava-se, naquele momento, obstruída por manifestantes que reivindicavam o agendamento de uma nova data para a realização do V Congresso, desta vez, com a previsão expressa de liberação dos funcionários. A relatoria do parecer foi feita pelo presidente da CLR, prof. João Grandino Rodas. O parecer não só respaldava a medida da Reitoria, como insinuava que houve etapas desnecessárias para se chegar a ela, como a do diálogo: “…houve um pedido escrito e oficial de desobstrução, entretanto, essa desobstrução (acredito que aqui a referência seja na verdade ao pedido de desobstrução) não se fez antes de possibilitar o diálogo, coisa que nem seria necessária – um diálogo nas circunstâncias, justamente porque a obstrução não tem fundamento, em absoluto, ela é ilegal por natureza”. Havia também o diagnóstico de que vigeria na universidade uma “tradição de uma benevolência exagerada”, remontando talvez “algumas décadas”, que comprometia o funcionamento da universidade. Na parcela mais jurídica do parecer, ponderava-se que a necessidade da constância no funcionamento da universidade estava prevista em lei e que a prerrogativa de assegurá-la era função da reitora. O argumento chega a soar, ao menos para quem lê a ata da reunião, quase como uma ameaça: “deve existir, sob forma de responsabilização, um rigor no cumprimento do calendário, ou seja, da não obstrução dos órgãos centrais da Universidade”. A responsável, neste caso, seria a Reitora que por ser “a autoridade administrativa máxima… é responsável legalmente pelo que faz e pelo que deixa de fazer….”.

Mesmo professores com uma história recente de fortes atritos com o movimento estudantil e dos servidores, mas minimamente zelosos pela tradição democrática dentro da universidade, diante do precedente que estava prestes a ser a aberto – cuja conseqüência não era outra que a legitimação da entrada da polícia no campus – fizeram falas no sentido de tentar adiar a votação do parecer da CLR. No entanto, o parecer foi colocado em votação e aprovado por ampla vantagem. Desde então, a cultura universitária do diálogo, da crítica, da manifestação e da discussão está em xeque, podendo ser suspensa quando, oportunamente, forem verificados “excessos”, bastando um chamado para o uso da força e da intimidação armadas. Os episódios desta semana são prova disso.

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Na já mencionada nota da reitoria a respeito da ocupação militar desta segunda, a referência ao parecer de março do ano passado da CLR é patente, ao invocar a “responsabilidade de garantir o funcionamento da universidade”. Queremos deixar claro que não estamos fazendo, aqui, a insinuação de que a reitora esteja agindo como está agindo por estar sendo pressionada a tomar esta atitude. Afinal, se o constrangimento for efetivo há sempre a possibilidade de se renunciar ao cargo. Contudo, a forma como a reitora rifou as forças mais democráticas que lhe ajudaram na eleição, depois de se julgar assegurada no cargo, apontam que dificilmente há qualquer crise de consciência nas medidas que vêm sendo tomadas.

Para nós da APG-USP/Capital, somente uma idéia bastante prejudicada de universidade pode levar a acreditar que seja possível assegurar o seu “funcionamento” através do medo e do constrangimento, físico ou moral, imposto por uma força policial armada nas suas dependências. Um juízo desses chega ao mínimo possível da escalada em que foi reduzindo vertiginosamente o âmbito do que é o “funcionamento da universidade”. Essa idéia é a expressão mais dramática do patamar medíocre em que se encontra, para alguns, a discussão sobre o que significa o “funcionamento da universidade”. Para os que prezavam o sentido de uma cultura universitária, está claro que nos últimos anos abriu-se mão da interação com a comunidade a sua volta, da convivência em seus espaços, do seu lugar como espaço público e cultural da cidade em nome do “funcionamento da universidade”. No momento, vemos aonde chega esta concepção: o “funcionamento da universidade” seria a mera conservação vegetativa de seu metabolismo burocrático; uma estrutura de poder que só se mantém em pé porque se assenta sobre um pesado jogo de interesses, que se fosse minimamente legitimado pela comunidade uspiana não precisaria fazer a USP amanhecer tomada, em seus diferentes institutos, por centenas de policiais armados.

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Também é nossa convicção que a principal carência para garantir o funcionamento da nossa Universidade – pensado aqui em uma chave que faça jus à pluralidade de manifestações políticas, artísticas e culturais que, aliada à prática científica, deve definir uma instituição universitária – não é a tropa de choque, mas uma radicalização da democracia na sua estrutura de poder.

Coordenadoria da APG-USP/Capital, 4 de junho de 2009

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fotos: http://dceocupado.blogspot.com/

(por incrível que pareça todas as fotos foram tiradas na USP)

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COMENTÁRIO de PROFESSOR SOBRE A INVASÃO DA USP PELA PM

pm_na_usp7“O que aconteceu hoje é algo que deve nos mostrar claramente o que significa chamar a policia para dentro do campus. Muitos falam da PM como se tratasse de uma “policia inglesa” capaz de saber atuar com o mínimo de adequação em situações de conflito social e manifestação. Como foi demonstrado mais uma vez, nossa policia não tem a mínima condição de garantir a segurança de ninguém. Enquanto Policia Militar, ela é formada para agir como militares em confronto com inimigos em situações de segurança externa. Ela entra no campus como entra nas favelas, ou seja, seguindo o lema “atirar primeiro, pensar depois”.

Suas práticas são mundialmente conhecidas e desprezadas. Ela é exemplo mundial de policia despreparada, corrupta e que mata gratuitamente. Mais de uma vez ela mostrou que sua atuação gera catástrofes, isto ao invés de impedi-las. Gostaria de insistir que nossos alunos correm risco real de vida e isto está acima de nossas diferenças. Temos a obrigação moral de deixarmos nossas divergências de lado e fazermos de tudo para retirar a polícia do campus de uma vez por todas, com a promessa de que ela nunca mais será chamada, aconteça o que acontecer.

Não haverá análise ou explicação que justificará um corpo de aluno morto e creio que hoje vimos que tal possibilidade não é uma ilusão criada para dramatizar conflitos sociais.

Prof. Dr. Vladimir Safatle

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CELSO LUNGARETTI COMENTA A BATALHA DA USP

SENHOR CIDADÃO, QUE VIDA AMARGA!

serra“Senhor Cidadão,
eu e você
temos coisas até parecidas:
por exemplo, nossos dentes,
da mesma cor, do mesmo barro.
Enquanto os meus guardam sorrisos,
os teus não sabem senão morder.
Que vida amarga!”
(“Senhor Cidadão”, Tom Zé)

Senhor Cidadão, não adianta colocares toda tua máquina de comunicação, inclusive a mídia que te é subserviente, para embaralhar os fatos, atirando sobre funcionários, professores e estudantes da USP a culpa pela batalha campal que teve lugar na Cidade Universitária, igualzinha àquelas dos tempos ásperos da ditadura militar, quando eu e você tínhamos coisas até parecidas: pelo menos nossos ideais, da mesma cor vermelha e moldados no mesmo barro da solidariedade para com os explorados.

Só que, enquanto eu os defendia nas ruas, os teus passos te levaram para bem longe, onde não havia sustos, nem companheiros tombando ao teu lado, nem o teu sangue corria risco de ser derramado pela causa.

Talvez advenha daí o teu rápido esquecimento daquilo que continua impresso indelevelmente na minha mente: as lições aprendidas na luta.

Uma delas é a de que, quando manifestantes e tropas de choque estão frente a frente, o conflito acaba sempre ocorrendo. E a imprensa patronal acaba sempre culpando os “baderneiros” e fechando os olhos à bestialidade dos fardados.

E o pior é que nem uns, nem outros são os verdadeiros culpados. A responsabilidade é de quem arma o tabuleiro dessa forma.

Caso do episódio desta terça-feira (9). Pois não havia necessidade nenhuma de se designarem os mais truculentos efetivos da Polícia Militar para o acompanhamento de uma manifestação pacífica, na qual o pessoal da USP distribuiria flores aos transeuntes, faria os discursos de sempre e depois se retiraria, como sempre, com a sensação de dever cumprido daqueles que tiveram brio de protestar contra as injustiças.

Mas, foram as odiadas e odiosas tropas de ocupação que o teu governo colocou em cena, o que só poderia ser tomado como uma provocação por aqueles que estavam lá exatamente para protestarem contra a presença de tropas de ocupação na universidade (o último lugar onde elas deveriam estar!).

E deu no que deu, Senhor Cidadão: essas imagens chocantes que jamais deveriam se repetir em plena democracia, mas servem ao teu propósito de convencer a direita que és confiável. Agora, no teu afã de angariar apoios para a corrida presidencial, provastes aos inimigos de outrora que não há nada, absolutamente nada, que deixarás de fazer.

Foi como se dissesses aos reacionários: “às favas todos os escrúpulos de consciência!”. Lembras? Trata-se da frase que definiu o papel histórico do coronel Jarbas Passarinho, aquele que era teu antípoda há quatro décadas e hoje, talvez, nem tanto…

Que vida amarga!

Jornalista, escritor e ex-preso político, Celso Lungaretti mantém os blogues http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

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charges: Carlos Latuff

http://latuff2.deviantart.com/ http://br.geocities.com/mcrost00/20040819c_cartuns_de_carlos_latuff.htm

Você já sabe que, além de exercer o cargo de Secretário da Educação no governo de Zé Chirico, o deputado federal licenciado e ex-ministro de FHC ocupa-se, também, de seu escritório de lobby, a PRS Consultores, que ensina o caminho das pedras a várias editoras de livros didáticos.
Já sabe, igualmente, que, além de ser vizinho de porta de uma das empresas do grupo Santillana – um dos gigantes dos livros didáticos no Brasil – , Paulo Renato senta-se numa das cadeiras do Conselho Consultivodeste conglomerado espanhol.

O tucano deve mesmo ser muito bom conselheiro, e só a gente aqui não sabia disso. Agora, sabemos.Paulo Renato é membro do Conselho Administrativo da CPOS – Companhia Paulista de Obras e Serviços, uma empresa de economia mista, vinculada à Secretaria Estadual de Economia e Planejamento, responsável pelas soluções de engenharia elaboradas para os órgãos da administração direta e indireta do Governo do Estado de São Paulo. O cargo é remunerado, conforme o Estatuto Social da organização (veja no site). E, caso você esteja achando que este Cloaca News está pegando no pé do pobre Paulo Renato, dê uma espiadinha na terceira coluna desta ata, publicada no Diário Oficial.

Ocorre que estamos tratando de um homem muito dinâmico, cheio de energia. Vai daí que acabamos encontrando o incansável Secretário da Educação também no Conselho de Administração da EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia – outra autarquia que sabe reconhecer, em espécie, o valor de um bom conselho. Para conferir mais uma eletrizante ata, clique aqui.

Com tantos afazeres, é provável que o tucano não encontre tempo de responder a este Requerimento de Informação feito pelo deputado estadual Rui Falcão, na Assembléia Legislativa paulista.

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DESAFIAMOS O SECRETÁRIO-LOBISTA DE SERRA

paulorenatoExcelentíssimo Senhor Paulo Renato Souza, Secretário da Educação do Estado de São Paulo: diga-nos, por favor, em que dia e em qual página doDiário Oficial paulista foi publicada a contratação, pela Vossa pasta, dos serviços de assessoria de imprensa e “planejamento estratégico de comunicação” da empresa Fator F, aquela de que tratamos duas postagens abaixo. E nos informe, por gentileza, quanto custa ao contribuinte esses “serviços”, de onde sai o dinheiro que os remunera e qual a vigência do contrato.

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Justamente agora que o sabujíssimo Gilberto Dimenstein ocupa a democrática tribuna da Folha Online para felicitar os professores paulistas pelo “fracasso” de sua greve, este Cloaca News aproveita a oportunidade para destrinçar mais algumas tramóias do Excelentíssimo Sr. Paulo Renato Souza, Secretário da Educação do governo Zé Chirico. As esclarecedoras (e estarrecedoras) informações, trazidas à luz pelo trabalho incansável de nossa destemida colaboradora NaMaria, permitirão aos leitores formar uma vaga idéia do tipo de gente que pretende tomar de assalto a Presidência da República, em 2010.

A pergunta básica é: como Roger Ferreira e seu sócio da Fator F, e mais a equipe que trabalha diretamente com Paulo Renato (os jornalistas Diana Medeiros, Fernanda Canto, Luciana Souza, Manuela Salu Miranda Sá, Maria Teresa Pinheiro Moraes e Ronaldo Tenório), foram contratados pela Secretaria da Educação paulista para o trabalho de assessoria de imprensa?

Como sabemos, existem algumas formas de contratação pelo Estado: por concurso público; ou por exercer cargo de confiança do Secretário, Governador…; ou licitação (no caso de pessoa jurídica); ou contratação por dispensa de licitação; ou contratação por notório saber (trabalho pontual, temporário, breve e específico, mais raro). Em qual das categorias está o Roger? Nenhuma. Em quaisquer dos casos acima haveria documentação e publicação no Diário Oficial. No caso de Roger Ferreira ou da Fator F, lamentamos informar:nada consta.

Um conhecido axioma nos faz relembrar que “o bandido sempre volta ao local do crime”. Competentíssimos que são, Roger e seu sócio Émerson Figueiredo conhecem bem o caminho das pedras: o primeiro foi Secretário de Comunicação do governo de São Paulo entre março de 2004 e março de 2006, e Émerson Secretário-adjunto de Comunicação do governo paulista entre março de 2004 e março de 2006. Ao que tudo indica, foi exatamente pelas portas da mesma Secretaria de Comunicação – SECOM – que voltaram à ativa na Educação.
O atual Secretário de Comunicação é Bruno Caetano. Em sua pasta, vemos pelo Diário Oficial que três agências de publicidade ganharam concorrência de muitos milhões, em 2008, e lá continuam até hoje, graças aos famosos aditivos – já foram feitos quatro (vide abaixo, com links e valores). Tudo isso pode durar 5 anos, sem maiores burocracias. Eis as empresas: Adag, Contexto e Lua Branca. Para as três há recursos do Gabinete da Secretaria de Educação, mas dentro da Secretaria de Comunicação – SECOM.
Como assim? – você perguntará.
Vamos resumir e simplificar os códigos criptografados da Secretaria da Educação: cada coisa tem um valor e cada valor fica em um lugar. Se quero comprar bananas nanicas, mas sou da Educação e não tenho verba para bananas nanicas em meu gabinete, posso recorrer ao gabinete da Saúde que tenha esta verba guardada para eu comprar bananas nanicas. O receptáculo da grana é identificado com um código: UGE. Significado das letrinhas: Unidade Gestora Executora.
As agências possuem cada uma quatro UGE 080101, sendo que a Contexto tem cinco. Este código é ligado à Secretaria da Educação, como se verá mais abaixo, nos contratos. Não esqueça: UGE 080101 – esta denominação permite tal tipo de pagamento; nisto está embutido o assessor de imprensa, equipe, publicidade em geral e que tais.
São estes os UGE, no mesmo contrato das três agências publicitárias, dentro das respectivas pastas, de acordo com o site da Secretaria da Fazenda de São Paulo:
080101 – Secretaria da Educação – Gabinete do Secretário
260101 – Secretaria do Meio Ambiente – Gab. do Secretário
450102 – Secretaria de Comunicação – SECOM – Unidade de Marketing
130101 – Secretaria de Agricultura e Abastecimento – Gab. Secretário e Assessorias
200101 – Secretaria da Fazenda – Gab. do Secretário e Assessorias
090101 – Secretaria da Saúde – Gab. do Secretário e Assessorias
Ou seja: o dinheiro da Secretaria de Educação está na SECOM, e esta paga os gastos da primeira com publicidade, propaganda, assessoria de imprensa, equipe… E, de dentro da SECOM, o dinheiro chega, de alguma maneira, na conta bancária de Roger Ferreira e briosa equipe. É assim que ele é pago. Seu nome não aparece em página alguma do Diário Oficial – apenas na badalação dos jornais mundanos.

Estamos enganados, Excelentíssimo Secretário e Conselheiro Paulo Renato?

Para ver com alguns detalhes os contratos das agências de publicidade, tais como foram publicados no Diário Oficial, clique aqui.
A propósito, existem curiosas coincidências no site da empresa APPM, gerida por um certo Antônio de Pádua Prado Júnior, vulgo Paeco. Mas isto são outros 500…

Fonte: Cloaca News