Pular navegação

Monthly Archives: junho 2009

aulapublica

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral.

::

por Olgária Mattos

A militarização do campus universitário da USP e a solução de conflitos através da força atestam o “esquecimento da política”, substituída pela ideologia da competência, entendida segundo o modelo da gestão empresarial, com seu culto da eficiência e otimização de resultados. Também a proposta mais recente da reforma da carreira docente e do projeto da implantação da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), respondem, cada qual à sua maneira, à “produtividade”, os acréscimos salariais dos professores subordinando-se ao número de publicações e a seu estatuto— se livro, capítulo de livro, ensaio em revistas, se estas se ajustam ao “selo de qualidade” das agências de financiamento; número de congressos; soma de palestras; orientações de teses e dissertações e, sobretudo, se estas obedecem ao prazo preconizado, tanto mais exíguos quanto mais os estudantes chegam à Universidade desprovidos de pré-requisitos à pesquisa,como um conhecimento adequado do português para fins de leitura e escrita universitária, (guardadas as exceções de praxe), bem como acesso a línguas estrangeiras. De fato, a Universidade se adapta às circunstâncias do ensino médio, e o mestrado pretende contornar as deficiências da formação no ensino médio (e fundamental também), que incidem nos anos de graduação, convertida em extensão do segundo grau.

Professores e estudantes cedem precocemente a publicações, sem que haja nelas nada de relevante, e, ao mesmo tempo, devem freqüentar cursos ou prepará-los, realizar trabalhos correspondentes, desenvolver suas teses – uma vez que a quantidade consagra pontuações para futuras bolsas de iniciação científica ou aprovação de auxílios acadêmicos. Quanto aos docentes, estes se ocupam cada vez mais com tarefas de secretaria, como preenchimento de planilhas, elaboração de relatórios, propostas de inovação em cursos não obstante ainda em vias de implantação, acompanhamento de iniciação científica, organização desses congressos, participação em atividades de iniciativa discente, preenchimento de pareceres on line de um número crescente de bolsistas, e por aí vai. No que diz respeito ao ensino à distância, ele não responde à democratização da Universidade mas a sua massificação.

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral. Este encontra-se na base da transformação do intelectual em especialista e da docência como vocação em docência como profissão. O saber técnico é o do expert que transmite conhecimentos sem experiência, cujo sentido intelectual e histórico lhe escapa. Assim como no processo produtivo a proletarização é perda dos objetos produzidos pelos produtores e perda do sentido da produção, a especialização pelo know how é proletarização do saber. Por isso o especialista moderno se comunica por fórmulas, gráficos, estatísticas e modelos matemáticos. Foucault reconhece seu primeiro representante em Oppenheimer que enunciou o projeto Mannhathan – que levou à bomba-atômica – em termos simpaticamente técnicos.

A “Universidade do Conhecimento” perverte pesquisa em produção. Quanto à educação à distância, ela não significa um apoio ao conhecimento e seu acesso a regiões distantes, mas sim o fim de toda uma civilização baseada nos valores da convivência, da sociabilidade e da felicidade do conhecimento.

Fonte: Carta Maior

::

“Onde há PAZ, há CULTURA. Onde há CULTURA, há PAZ.”

paz

VIVA A UNIVERSIDADE CULTURAL !!!

::


O jeito Serra de tratar as universidades

O jeito Serra de tratar as universidades

É difícil encontrar um projeto bem-sucedido e de largo alcance do governador José Serra, talvez nem exista. A fama que ele ostenta de bom administrador, deve-se menos ao fato de realmente sê-lo que da mídia hegemônica e marketing político. Até hoje Serra e a “grande” imprensa creditam na sua conta, indevidamente, os programas de combate à aids e dos genéricos, no fundo mera apropriação midiática. O primeiro é de iniciativa dos médicos Adib Jatene e Lair Rodrigues, o segundo do também médico Jamil Haddad.

Serra não tem projeto para São Paulo, apenas de poder, da mesma forma que seu partido pretendia ficar 20 anos no Palácio do Planalto. Ficou 8, mas o estrago valeu por 20. Sendo assim, não podendo colocar em funcionamento essa tecnologia de apropriação indébita de idéias alheias e com ela tomar posse do ProUni – tampouco podendo despersonalizá-lo, tendo em vista sua aprovação pública – para inflacionar seu discurso eleitoral Serra criou a Univesp, e criou-a da maneira como governa: por decreto. Pior, da maneira como o PSDB pensa a educação: não pensa – a educação em São Paulo é o melhor cartão de visita factual do significado de quase 20 anos de PSDB no Palácio dos Bandeirantes, ou, ainda, o clima de terra arrasada  nas universidade federais durante o período em que Paulo Renato Souza esteve à frente da pasta do Ministério da Educação.

Tendo em vista isso, escrevemos o artigo que segue sobre a Univesp, onde procuramos demonstrar o tamanho da irresponsabilidade que ela significa na sua atual configuração, irresponsabilidade que nem mesmo a ambição desmedida de José Serra pelo Planalto poderia justificar. Afinal, esse projeto não mira a educação pública do Estado, mas tão somente 2010. Aliás, como dissemos, o único projeto do governador de São Paulo é ser presidente da República custe o que custar, e já está custando muito, a educação, o desrespeito com que trata as universidades e a Univesp estão aí para comprovar.

Porque somos contra a Univesp

Lançamento da Univesp

Lançamento da Univesp

No início deste ano(2009) o governo do Estado criou, através da Secretária do Ensino Superior, a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). A Univesp é um consórcio entre as três universidades paulistas – USP, UNESP e UNICAMP – que irá oferecer cursos em EaD (Ensino a Distância) e cursos semi-presenciais.

O projeto é alardeado pelo governo do Estado como uma forma de ampliar e democratizar o acesso à universidade pública – que finalmente ele reconhece elitizado-, bem como uma medida para aumentar o número de professores graduados na rede de ensino público – que agora é reconhecido como precário.

Estudantes, professores e funcionários se colocaram contra esse projeto por entender que apesar dele surgir do reconhecimento de demandas importantes da sociedade – democratização do acesso à universidade pública e a tentativa de melhorar o ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo, um dos mais precários e caóticos do Brasil – ele não resolverá nenhuma delas, ao contrário, é uma medida que agrava ainda mais as desigualdades e aprofunda o processo de sucateamento do ensino, que é fruto de pelo menos 14 anos de gestão do PSDB em São Paulo.

O que é EaD? Nossa greve é contra a EaD?

EaD é o chamado ensino a distância, graduações em EaD são graduações que utilizam  recursos tecnológicos – filmes, internet, tele-aulas, recursos audiovisuais  etc.–, para oferecer cursos sem a estrutura presencial – prédios, laboratórios, professores ao vivo e sala de aula – que é base da educação brasileira até então. Tais cursos foram criados e são ministrados no exterior para atender a casos particulares e específicos nos quais é IMPOSSÍVELfornecer a estrutura presencial, casos como: presidiários, deficientes físicos com sérias impossibilidades de locomoção, pessoas que moram em lugares muito isolados geograficamente, pessoas que precisam de horários flexíveis para dedicar-se ao curso. Um exemplo muito conhecido de EaD no Brasil é  o Telecurso 2000.

Gilberto Dimenstein

Gilberto Dimenstein

Diferente do que pessoas como Roberto Dimenstein – o jornalista é uma pessoa que literalmente conhece o ensino a distância, bem a distância, talvez por isso diz o que diz sobre a Univesp e a educação – e tantos outros têm constantemente falado na mídia, nossa greve não é contra a implementação de EaD na universidade. Na verdade lamentamos o fato de que até hoje não houve um real esforço no sentido de garantir infraestrutura para recursos de EaD em nossos cursos presenciais, assim como lamentamos que nada se tenha feito para possibilitar o oferecimento de cursos de extensão a distância. A EaD já poderia ser uma ferramenta importantíssima para garantir mais cursos abertos e gratuitos para a população, bem como poderiam ser ministrados cursos que buscassem ampliar e atualizar professores de básico, médio e fundamental.

A questão é que mesmo tendo feito pouquíssimos esforços até hoje na implementação, de forma paulatina e responsável, de recursos para o ensino à distância nas universidades públicas, o governo do Estado, em vésperas de eleições, quer abrir no próximo semestre (agosto de 2009) cinco mil vagas para cursos de licenciatura a distância.

Dessa forma, não nos colocamos, em nenhum momento, contra a implementação de cursos por EaD, nem mesmo contra o uso de recursos tecnológicos na educação, estamos contra este projeto absolutamente precário, mesmo quando toma-se como base de comparação outros cursos de EaD.

Univesp e a democratização do acesso à universidade pública.

Portanto, não se trata aqui de negar a importância dos recursos tecnológicos do ensino à distância na busca por democratizar o acesso à universidade. Mas reconhecer que tal recurso tem grandes limitações. Reconhecer a importância da relação professor-aluno, aluno-aluno, reconhecer a necessidade da interação na sala de aula, da importância de um ambiente universitário para suscitar o pensamento crítico, reconhecer que a sala de aula é um espaço não de mera transmissão de conhecimento, mas um espaço de debate e de produção de conhecimento. Reconhecer as limitações de cursos pré-preparados que não podem se alterar durante o percurso, que não levam em conta a vivência e conhecimento que cada estudante já tem e o quanto isso pode ser importante dentro da sala de aula. Reconhecer, portanto, que o ensino a distância deve ser usado, mas não pode almejar substituir ou se igualar ao ensino presencial. O que afirmamos e defendemos não é que não devem ser oferecidos cursos à distância, mas que tais cursos têm sim uma perda de qualidade em relação ao ensino presencial, e sua aplicação deveria se dar na complementação do ensino presencial ou em casos excepcionais.

Muitos podem argumentar que o desempenho dos cursos a distância no ENADE é superior a grande parte dos ensinos presenciais, mas não hesitamos em dizer que isso não prova a qualidade de nada. É um erro acreditar que se pode medir a qualidade de ensino unicamente por uma prova, ainda mais tendo em mente que essa prova é boicotada pela maior parte das universidades públicas. Não nos surpreende em nada que alunos de EaD tenham desempenho razoável no ENADE. Arriscamos dizer que buscando comprovar sua eficácia tenham sido pensados desde o princípio com base no currículo cobrado nesta prova. É necessário levar em conta o desempenho do EaD na área de pesquisa, avaliar sua estrutura (laboratórios e bibliotecas) para poder ponderar a questão. É necessário atentar que a maior parte dos cursos de EaD oferecidos no país não tem qualquer investimento em pesquisa, que rompem o tripé que garante a qualidade das universidade públicas: Ensino, Pesquisa e Extensão.

O programa Univesp está sendo implementado sem a contrapartida de investimentos em centros tecnológicos espalhados pelo estado, levando as graduações a distância a lugares isolados geograficamente. A estrutura utilizada inicialmente é a das próprias universidades, o que limita o programa a áreas próximas de onde existem atualmente campis de universidades estaduais. A Univesp vai levar o ensino a distância para lugares onde já existem vagas na universidade pública, no entanto elas não suprem a demanda social. Aqueles que moram em áreas remotas, onde o ensino presencial não existe, em um primeiro momento, não são alvo da Univesp. O que mostra o caráter de inclusão social do programa.

Nesse sentido, somos contra o uso de tais recursos.

Para democratizar o acesso de fato, a universidade deve começar a debater programas sérios de inclusão, deve reconhecer que o Inclusp é mero programa de fachada e não está possibilitando que negros, indígenas e pobres ingressem na universidade. Chegou a hora da universidade reconhecer que o problema não é apenas a falta de vagas, mas também a forma como tais vagas são distribuídas. É completamente despropositado, para não dizer hipócrita, acreditar que se está operando uma democratização do acesso, quando na verdade o ensino superior que atingirá as populações mais pobres é um ensino diferente, cheio de restrições, precário e de baixo custo.

É duvidoso acreditar que a Univesp irá suprir demandas históricas de populações desfavorecidas, minorias e classes populares. O que reivindicam essas pessoas e os movimentos sociais que lutam por elas é o acesso à mesma universidade que nós temos. Com a mesma infra-estrutura, com os mesmos benefícios de assistência estudantil (bolsas, bandejão, moradia etc.) e com o mesmo prestígio.

E isso significa questionar a forma de seleção sobre a qual opera o vestibular. Implica começar a debater o uso de políticas de cotas, que já são implementadas em 39 universidades no país, sendo que no nosso estado sequer começamos a debater seriamente o tema. Somos contra esse projeto porque ele é a mudança para ficar como está. Visa manter as universidades estaduais como ilhas, reservando seu ensino de qualidade a determinadas classes sociais, ou seja, basicamente àquelas que podem dispor de capital cultural pré-exigido no vestibular.

O projeto não democratiza o acesso porque cria duas universidades, uma, com ensino de excelência, para a elite com projetos de pesquisa e bolsas da Fapesp e da Capes; e outra, virtual, para o resto da população. É a mudança para que a USP continue exatamente como está.

Univesp e formação de professores

Recursos de EaD podem, sem dúvida, ser uma forma de aproximarmos a precária escola pública do ensino de excelência das universidade estaduais, e nós defendemos isso. No entanto, o que o governo do Estado propõe é que tais cursos sejam voltados para formar profissionais que já atuam na rede, bem como abrir cursos de acordo com a demanda de professores na escola pública.

É necessário começar pelo fato de que as limitações do EaD são ainda maiores quando se trata da formação de professores. Não nos parece absurdo duvidar da formação de um educador (maior parte das vagas são na área de pedagogia) que foi formado fora do lugar no qual trabalhará a vida toda. Se para qualquer curso a sala de aula é um espaço importante e sua supressão tem consequências danosas para o processo educativo, em cursos de licenciatura isso é ainda mais problemático. A sala de aula e a relação aluno-professor é a base da formação em educação e sua extinção é inaceitável.

No entanto, a formação de professores que já estão na atuando na rede pública, mas não possuem ensino superior, é uma possibilidade a ser levada em conta, ainda que com cautela, posto que eles já possuem experiência na atuação em sala de aula. Mas é preciso que o professor tenha condições adequadas para isso, sabemos que a maior parte dos professores nessa situação são os remanescentes do magistério, sendo crucial levar em conta que, devido a sua idade mais avançada, talvez tenham dificuldades para utilizar ferramentas tecnológicas, e isso não é  levado em conta no projeto. É igualmente preciso reconhecer que uma parte considerável de professores trabalha em dois turnos, às vezes até mais, e que para que sua formação fosse feita com a qualidade devida seria importante uma redução na jornada de trabalho, dando-lhe tempo para se dedicar aos estudos.

A abertura de vagas visando suprir as demandas do ensino público é ainda mais questionável, posto que primeiramente deixa claro que tais professores têm lugar certo. Afinal, alguém acredita que as escolas particulares, consideradas muito à frente das públicas no quesito qualidade, iriam contratar professores formados a distância?

A UNIVESP antes de ser um exemplo de atenção e preocupação com o ensino médio público, pela forma unilateral de sua implementação e ausência de discussão acadêmica, é a prova do completo descaso com o mesmo. Posto que, serão os professores de nossa rede pública a primeira experiência com esse método, no projeto fica claro que cursos de Pós e MBA só serão oferecidos após um ano de estabilização dos cursos de licenciatura.

Ou seja, o governo do Estado está implementando, a toque de caixa, um projeto sem que se tenha tempo para preparação e estruturação adequados. Como o projeto está proposto, a formação de professores da rede pública dar-se-á num primeiro momento como “ratos de laboratório”. Nós questionamos essa irresponsabilidade, uma vez que traz o risco de comprometer diversas gerações, vítimas de professores mal formados. Será que isso por si só não é razão suficiente para que se discuta mais antes de implementar a Univesp?

A implementação do EaD pela gestão tucana de São Paulo, desde o princípio, vem par e passo ao descaso com a profissão do professor e com a educação. Nem a escola fundamental escapa do choque de gestão tecnocrata, como mostra Deliberação CEE Nº 77/2008 que possibilita que no Ensino Fundamental(!!!) até 20% das aulas sejam ministradas a distância. O descaso começa no simples fato de reconhecerem que tal profissional pode ser substituída por uma televisão, sem qualquer prejuízo pedagógico (no projeto da Univesp a relação aluno professor é comparada à relação espectador e ator de televisão). Se levarmos em conta como o projeto está, tudo se agrava, uma vez que os cursos são um verdadeiro “tubo de ensaio” para a educação, pois inexiste qualquer estudo sério sobre o impacto dessas medidas.

A implementação de EaD como melhoria do ensino médio e fundamental público não atinge de fato as questões que ocasionam sua precariedade. A má formação de professores é apenas uma delas, mas que não pode ser entendida sem levar-se em conta as más condições de trabalho e o baixo salário que geram a migração dos professores mais preparados para as escolas particulares ou municipais. Questões como a falta de materiais bem elaborados, falta de acompanhamento dos alunos especiais (alunos de inclusão, com déficit de atenção ou traumas psicológicos), crescente violência nas escolas, falta de incentivo dos alunos etc., passam ao largo das políticas desse governo, que em 14 anos foi incapaz de fazer avançar  os ensinos médio e fundamental a patamares pelo menos razoáveis. Não por acaso a educação é um dos pontos mais frágeis do tucanato paulista, levando o governador Serra enfiar goela abaixo a Univesp, cuja intenção verdadeira mira 2010, não o ensino público de qualidade. Ele precisa se contrapor ao ProUni e ao EaD, que são projetos consolidados do Governo Federal, uma vez que neste caso não há como apropriar-se da idéia de outro como fez com os genéricos e o programa de combate contra a aids.

Por outra universidade

impossível_uspRecentemente o blogueiro e apresentador Marcelo Tas perguntou “O que querem os estudantes da USP”. Queremos defender a universidade pública, a educação e a cultura deste país. Por isto os estudantes estão contra esse projeto. Sabemos que é possível elaborar políticas mais enérgicas na solução de tais problemas, bem como sabemos que essa medida visa unicamente maquiar dados para as eleições de 2010. Somos contra porque queremos soluções e não dados politicamente corretos. Somos contra porque nossa luta de trazer mudanças para a população vai além da mera inclusão formal.

Agora o desafio que está posto para nós é buscar elaborar outro projeto, teremos que fazer o trabalho do governo e da universidade, tendo em mente demandas históricas da população paulista que há muito tempo são defendidas por nós e ignoradas por eles. Um projeto que tenha medidas de inclusão efetivas, que seja baseado em um convênio entre escolas e universidades públicas, e possa de fato levar o ensino superior para pessoas e lugares nos quais ele nunca esteve.

Encerramos fazendo uma suposição: levemos em conta tudo o que expusemos anteriormente seja puro preconceito, que a UNIVESP consiga formar professores com qualidade e oferecer cursos que não deixem nada a desejar para os cursos presenciais. Caso isso aconteça, o que é duvidoso sem mudanças no vestibular e investimentos em melhorias do ensino público, é certo que irá acontecer o que já ocorre com a maioria dos professores formados pela USP: irão migrar para a rede particular, além de trazer a relação perversa da Fuvest para a Univesp, ou seja, a relação candidato/vaga ficará alta o suficiente para manter a população carente, mais uma vez, fora da universidade.

Por Universidade para quem?

::

Editorial Correio da Cidadania

A presença de Antonio Candido no ato público de apoio à greve dos funcionários administrativos da Universidade de São Paulo deu ao movimento um novo significado: não se trata apenas de uma justa reivindicação salarial; trata-se do resgate de um sonho.

Antonio Candido é uma das mais brilhantes e legítimas expressões da geração de intelectuais que sonharam com a possibilidade de transformar o Brasil em uma verdadeira Nação. Isto não poderia ser feito sem um instrumento de reflexão, de debates, de diálogo democrático entre pensamentos opostos – enfim, sem um “ambiente” verdadeiramente universitário.

Que aquela geração de uspianos foi fiel ao sonho, atesta-o a sanha dos militares contra seus professores e alunos nos anos da ditadura; que o sonho ainda perturba os setores reacionários da sociedade, dão testemunho os comentários assustados que a respeito da fala de Antonio Candido têm saído na imprensa burguesa.

Esta fala teve o mérito de oferecer ao movimento grevista – e a todos, professores e alunos, inconformados com a situação atual da universidade – uma perspectiva mais ampla e gratificante do que a mera reivindicação corporativa. Sem mencionar diretamente o assunto, Antonio Candido colocou a reivindicação dos funcionários na visão maior do lugar da Universidade no país.

Salários adequados; carreiras universitárias; laboratórios; instalações; verbas para pesquisa. Tudo isto é necessário, mas não vale nada se não houver “clima universitário”. E não há “clima universitário” sem independência política e financeira da Universidade.

O que está havendo na USP é a deterioração do “clima universitário” e o culpado é o sutil processo de privatização que seus atuais dirigentes impulsionam. Tal processo provocou a fissura, que se estabeleceu entre professores e departamentos financiados pelo capital privado para fazer pesquisas, de um lado, e professores sem recursos para fazê-las de outro.

A docilidade dos “financiados” às fontes de seus recursos responde pela alienação política da maioria do alunado, e o avanço da privatização reduz os recursos públicos para atender às legítimas reivindicações de professores, alunos e funcionários administrativos da instituição.

Não há como escapar dessa contradição nem como contorná-la sem trazê-la à tona e sem travar em torno dela uma disputa política aberta, porque ela só poderá ser resolvida com a vitória dos que consideram a existência de uma intelectualidade livre e independente, política e financeiramente, a primeira condição para a construção de um Estado-Nação.

A presença de um intelectual do porte de Antonio Candido no campus da USP deu o tom da disputa que precisa ser feita: a população de São Paulo quer uma universidade para formar operadores das grandes empresas capitalistas ou para servir ao povo brasileiro?

Fonte: Correio da Cidadania

::

cartaz_juninaDCE

.

.

OCUPAUSP!

.

.

Quinta-feira, 25/06
.
11h – Cena: O Caso das Petúnias Esmagadas. Cena curta (aprox 20min) criada a partir de processo sobre texto do Tennessee Williams com alunos do CAC do terceiro e primeiro anos (Local: Sala 25 do CAC)
.
11h30 – Abertura. + Escolha de temas para os grupos de trabalho. + Divisão das comissões do alojamento (Local: Quadrado das artes)
.
12h30 – Cena: O Quarto Escuro. Um estudo em cima da peça de um ato do Tennessee Williams. A peça se passa no suburbio de uma cidade grande durante a grande depressão americana. Este “fragmento” de drama fala sobre a intervenção do estado na vida das pessoas em tempo de crise. (Local: Sala 24 do CAC)
.
14h – Cena: Cheiro de Pequi; Um exercício solo performático sobre aspectos do ritual indígena do kwarup. (Local: Quadrado das artes)
.
14h30 às 16h30 – Ação: ‘Let The Sunshine In’. Ensaio da coreografia do musical ‘Hair’ com todos os interessados (voluntários) e apresentação/intervenção no vão do prédio da História e Geografia (Local: História/Geografia)
.
17h30 (a partir das) – Ação: Leitura Ininterrupta da íntegra de A Odisséia de Homero. (Local: sala 14 do CAC).
.
17h30 – Cena: O Quarto Rosa. Peça de Tennessee Williams montada inicialmente para o curso de Direção II (do CAC), com pesquisa voltada para o corporal, o presencial e o performático. O texto conta o término da relação de 8 anos de um casal de amantes. (Local: Sala 24 do CAC)
.
18h – Dança: O Memorial do Quarto Escuro. Quarto é o sítio da intimidade onde se encarnam memórias, angústias, desejos e esperanças. É também neste espaço que a tensão indivíduoXsociedade pode ganhar alívio, onde cada um está à mercê de sua consciência, e qualquer tentativa de aparência é inútil. Segredos, silêncios, mortes e nascimentos ocorrem no espaço-tempo de um pensamento-ação. Memorial do quarto escuro são fragmentos íntimos na busca de ser inteiro. (Local: Canil ou Sala do CAC; local à confirmar)
.
19h – Cena: Essas São as Escadas que Você Deve Vigiar. Ensaio aberto de cena curta do Tennessee Williams, com atividade coletiva de ocupação artística no DCE (Local: DCE Ocupado)
.
19h30 – Música: Núcleo de Percussão Cotidiana PIRATAS SONOROS (Local: em frente ao DCEocupado – R. Universidade Livre)
.
20h – Ação: Carta aos Reitores das Universidades Paulistas. Leitura adaptada do texto “Carta aos reitores das universidades europeias”, de Antonin Artaud. (Local: Em frente à reitoria – R. Universidade Livre)
.
20h20 – Ação: A Dureza da Flor. Um conjunto de poemas que falam da ternura e amor necessários à luta, e da sobriedade indispensável para resistir às dores e percalços. (Local: Em frente à reitoria – R. Universidade Livre)
.
21h – Ação: GizZaço. Desenhos, frases e palavras no chão.
Lembrando que isso não se configura como depredação do bem público, uma chuva ou uma mangueirada já limpam todo o lugar.Tragam giz em quantidade e camisetas para pintar. (Local: Em frente à reitoria – R. Universidade Livre + Praça do Relógio)

.
21h30 – Ação: Batizado e Inauguração da Rua Universidade Livre. Trata-se da Rua que passa em frente à reitoria da USP; o evento se fará com um cortejo de Maracatu e outras bandas. (Local: Em frente à reitoria – R. Universidade Livre)
.
22h – Festa: Junina. (Local: DCE Ocupado)
.
.
Sexta-feira, 26/06
.
10h – Debate: Grupos de Trabalho temáticos. A partir dos temas escolhidos na quinta-feira grupos se formarão pra debatê-los; as discussões serão, depois, relatadas. (Local: Salas do CAC)
.
13h – Cinema: Chris Marker e o Cinema Militante. Exibição de filmes seguidos de exposição e debates. (Local: sala 27 do CTR);
.
13h – Música: Maracatu. (Local: Quadrado das Artes)
15h – Música: Banda Morsa. (Local: Quadrado das Artes)
16h – Música: Fábula Acústica. (Local: Quadrado das Artes)
.
16h50 – CenAção: Ensaio sobre Gaivotas. Critica à produçao cerceada de conhecimento e ao comodismo universitario, inpirada na própria usp e na gaivota do tchekov. Duração de 20m. (Local: Praça do Relógio)
.
17h – Música: B NEGÃO (!). (Local: Quadrado das Artes)
.
19h – Dança: Our love is like the flowers the rain, the sea and the hours – Num espaço público, pessoas cruzam-se, carregando seus sonhos, seus afazeres, suas histórias. Dos encontros e desencontros num mundo de solidões proclamadas e relações virtualizadas. Espetáculo de dança contemporânea do Coletivo de artistas Intermitente Abismo de Sonhos. (Local: Rotatória em frente ao CEPEUSP)
.
20h – Música: TOM ZÉ (!). O show do Tom Zé é promovido pelo SINTUSP para arrecadação de fundo de greve:  ingressos a R$5,00  antecipado e R$10,0 na hora. (Local: Velódromo)
.
22h – Música: Banda Sexto Grau. (Local: Quadrado das Artes)
.
.
Sábado, 27/06
.
10h – Teatro: Jogos da Greve. Do grupo de Teatro do Oprimido Universitário Metaxis. (Local: Quadrado das Artes)
.
11h30 – Cena: O Matador Municipal. (Local: Entre o DCE e o Bandeijão)
.
13h30 – Debate: Grupos de Trabalho temáticos (parte II). Apresentação da relatoria de cada grupo de trabalho. (Local: Oásis das Artes)
.
16h – Encerramento: Sarau de Luta. Organizado por estudantes de Ciências Sociais da PUC; participação e proposição livres. (Local: Praça do Relógio)
.
.
OUTRAS Atividades:
.
Exposições: (Local: Aquário de vidro do DCE Ocupado)
Experimentações com nanquim em tamanho gigante; de Paloma Franca Amorim
– Fotos da ocupação da PM e do ato no P1; de Zink
– Desenhos de greve (a confirmar)
– Quadrinhos; de Dedo Zuka

.

org. Estudantes em greve das artes!

Como se sabe, A Universidade de São Paulo vem protagonizando uma série de conflitos políticos entre movimentos e entidades representativas de um lado;
e a alta cúpula administrativa munida da ala mais reacionária da comunidade acadêmica, do outro.O debate, sempre saudável no âmbito da democracia, descambou para a intransigência unilateral com a invasão da Polícia Militar chamada pela reitoria, supostamente em nome da “liberdade de ir e vir” e da “defesa do patrimônio público”.

Ademais, o tratamento parcial e mentiroso que a mídia vem circulando sobre o caso esconde grande parte da discussão e surperficializa todas as pautas e as ações de greve.

Com a velha descaracterização do interlocutor político, cujo argumento é o eterno contraste entre o número de participantes ativos e o número efetivo de membros da comunidade acadêmica (número esse muitas vezes acrescido mentirosamente como no Editorial da Folha de S. Paulo), adjetiva-se a luta com a alcunha pejorativa e cínica de “minoria universitária”.

FLOWERCHUKERFrente a tal conjuntura, nós, estudantes do curso de artes cênicas da USP, promoveremos um grande encontro teatral cujo principal objetivo e motivação é ampliar o debate para toda a sociedade.

Desse modo, nos dias 25, 26 e 27 de junho faremos um evento que pretende unir estudantes de artes das três estaduais paulistas, estudantes de teatro das escolas técnicas de São Paulo, grupos de teatro ativos no movimento de teatro de grupo e todos os demais interessados. A ideia é que o encontro una a ocupação dos enormes espaços da USP com manifestações, intervenções, práticas e apresentações teatrais; com debates e conversas sobre toda a conjuntura do ensino superior; do ensino do teatro e da cultura.

Para tanto, convidamos todos a participar nesses três dias de ocupação da USP com qualquer tipo de ação artística (teatral, audiovisual, plástica, poesia, música, intervenção, dança, etc…) no espaço. Ou simplesmente com a presença de cada um.

Nenhum parâmetro do evento está definido, espera-se que as proposições de ação enviadas delineiem a forma do encontro.

Estejam conosco nessa investida. Façamos que a arte re-signifique todos os cantos obscuros de nossa Universidade.

TODOS estão convidados a participar do Ocupa a USP nos dias 25, 26  e 27 de Junho!!! Lembrando que foi confirmado um show do Tom Zé no velódromo da USP!!!


Os interessados em apresentar qualquer tipo de manifestação artística nos mais diversos espaços da USP, favor fazer a inscrição no nosso blog:

http://ocupausp.blogspot.com/

O prazo máximo para inscrição é 19 de Junho (esta sexta).

::


DIA DA DEMOCRACIA! – 24.06 – 4ª (na ECA)

Um dia para discutir a democracia na USP.

(proposta de programação)

10h Estrutura de poder da Universidade

14h Estatuinte e diretas, já!

18h Histórico da Luta por democracia: os congressos da USP

(em breve mais detalhes)

::


VIOLÊNCIA NA USP

Análises da violência da última semana na USP falaram em nome da democracia. Tanto quem apoiou como quem condenou o recurso à força policial apelaram para a Constituição Federal e para o Estado democrático de Direito. Esse apelo comum mostra consolidação e vivacidade da Constituição e da democracia no país. Mas só quer dizer alguma coisa se ficar claro o que realmente está em jogo nesse caso.

E o que está em jogo certamente não é a ação policial. Ela é sintoma, não causa. O fundamental é saber por que afinal a polícia foi chamada. Dizer que uma intervenção da polícia hoje é diferente de outra praticada durante a ditadura militar é dizer o óbvio. Dizer que a ação da polícia pretendia simplesmente restaurar a ordem ignora que todo o problema está justamente nessa ordem a ser restaurada.

PROTESTO / USP

No Brasil, as universidades foram espaços fundamentais de resistência à ditadura militar. Tentavam se organizar como refúgios em que se procurava produzir em escala reduzida o que se pretendia expandir um dia como um ambiente de convivência democrática mais amplo. Um requisito crucial era o de manter a polícia o quanto possível longe desse experimento.

A ditadura foi pouco a pouco derrotada. Instituições democráticas se firmaram. Mas esse não é um processo uniforme rumo ao melhor: basta ver a podridão exposta do Congresso Nacional. Também não é um processo automático: a mera existência de instituições democráticas não garante que a sociedade como um todo se tenha democratizado.

O que torna o conflito na USP mais amplo do que os muros da escola é justamente o fato de revelar quão baixo ainda é o nível de democratização da sociedade brasileira. O episódio mostra com clareza que energias de protesto e de mudança continuam represadas em universidades, sem encontrar canais efetivos de expressão na esfera pública e na política institucional.

latuff-reprimirounao-charge

A USP tornou-se um emblema desse nó social por insistir em manter uma estrutura de participação e uma forma de escolher dirigentes que se parece mais com o conclave que elege o papa. Continua a preservar a estrutura de uma universidade de cátedras, modelo rejeitado pela própria USP há mais de 40 anos.


A recusa em proceder a uma reforma estrutural aprofunda cada vez mais o isolamento da administração em relação à comunidade da universidade, visível há mais de uma década. Produz atritos internos que rapidamente degeneram em conflitos artificiais. O apelo à intervenção policial é o último recurso de um grupo dirigente divorciado da própria universidade.

por Marcos Nobre

Charge: Carlos Latuff

Vídeo produzido por um grupo de estudantes independentes da USP.

“Não representaremos ninguém, nem os fatos. Atos não serão aqui apresentados, e sim representados. Toda representação é, em si, falha.”

::

RELATO DO ATAQUE DA PM À USP NO DIA 09/06/2009

Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os
policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.

Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções.

A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria  estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de  concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas).

Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A
multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio.

Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.

Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação. Uma outra delegação
de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos.

A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira), autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário. Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.

Prof. Dr. Pablo Ortellado

::

Debelado foco guerrilheiro na USP

USP

Em primeiro plano: guerrilheiro comunista se prepara para desferir um ataque cruel contra os soldados.

A Força Pública de São Paulo em um ato de bravura e dedicação ímpar a Pátria, venceu com brilhantismo e galhardia a feroz batalha contra os guerrilheiros comunistas que haviam tomado de assalto a USP e lá estabelecido um núcleo guerrilheiro em pleno território da prosperidade e do altivo progresso econômico que é essa verdadeira Suíça brasileira.

protesto-usp_cabeça

Combatente comunista desferindo cabeçadas covardemente contra as mãos dos soldados quase lhes causando fraturas no pulso.

A ação comunista começou quando um grupo de guerrilheiros fortemente armados tentou emboscar alguns soldados que apesar de estarem em menor número resistiram bravamente, impondo forte baixas aos inimigos vermelhos.

protesto-usp_livro

Guerrilheiro pesadamente armado com um caderno recheado de explosivo plástico se prepara para atirá-lo nos PMs.

Logo, voluntários patriotas da Força Pública que defende São Paulo cerraram fileiras na luta contra os combatentes marxistas e mesmo com seu armamento modesto, mas com muita bravura, fora derrotando pouco a pouco os subversivos e graças a sagacidade de seus comandantes, os policiais lograram êxito em capturar um dos líderes de guerrilha, elemento extremamente perigoso.

protesto-usp-lider

Um dos principais líderes da guerrilha capturado pelas forças de seguranças sendo levado para interrogatório. A CIA já enviou um representante para obter mais informações sobre o grupo.

Com muita tenacidade, os representantes da Lei e da Ordem, foram conseguindo virar o jogo, apesar de terem começado o combate em situação inferior.

protesto-usp-flores

Desesperados, os comunistas arremessavam flores envenenadas na tentativa de matarem os soldados de alergia ou choque anafilático.

Já em fuga, os combatentes ilegais marxistas tentaram se refugiar na FFLCH mas foram sitiados e derrotados e o triunfo coube aos leais defensores dos homens bons aos quais parabenizamos e emocionados agradecemos.

marcosfe_gas_jun_2009

Além de perigosos os comunistas eram mal educados e soltavam pum em grande quantidades obrigando os soldados e espargirem Bom Ar no ambiente para poderem respirar melhor.

Avantes irmãos soldados do bem com fé suprema em São Serapião, aqui não há quem vos derrote e nem quem desafie vossa galhardia! Alvíssaras!!!

Fonte: Blog do Professor Hariovaldo Almeida Prado * com algumas alterações.

EXIGÊNCIAS DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP – 10/06/2009

1. renúncia imediata da Suely Vilela do cargo de reitora da USP;

2. retirada imediata da Polícia Militar do campus;

3.adoção de medias firmes para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve;

4. início imediato de um processo de estatuinte democrático.


DiretasJaDECLARAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DA ADUSP DE 10/06/2009

A Universidade de São Paulo tem desrespeitado, há anos, no seu cotidiano e nas suas instâncias de decisão, o Artigo 206 da Constituição Federal que define o princípio da gestão democrática do ensino público.

O desrespeito fica evidenciado pela ausência de diálogo sempre que deliberações de Conselhos de Departamentos, Congregações e do Conselho Universitário acontecem sem a devida participação de alunos, docentes e funcionários. Nos últimos meses testemunhamos algumas dessas deliberações que, no lugar do diálogo, impõem de maneira autoritária suas decisões, gerando conflitos e desgastes desnecessários entre as partes envolvidas: demissão política de um dirigente sindical, o ingresso da USP na Univesp, a reforma estatutária da carreira, as mudanças no exame vestibular, entre outras. As três últimas, aliás, foram tomadas sem razões acadêmicas que as sustentem.

A crise atual vivenciada pela USP, originada pela negociação de data-base, como vem acontecendo nas negociações dos últimos anos, a ausência de diálogo exacerbada pela ruptura por parte do Cruesp da continuidade da negociação, culminou com a solicitação, por parte da reitoria da USP, da presença da Polícia Militar, provocando a violenta repressão que vivenciamos na tarde de ontem no campus Butantã da USP.

Em função dessa sucessão de acontecimentos:

“Os professores da Universidade de São Paulo, reunidos em Assembléia no dia 10 de junho de 2009, em face dos graves acontecimentos envolvendo a ação violenta da Polícia Militar no campus Butantã, vêm a público exigir:

1. a renúncia imediata da professora Suely Vilela como reitora da Universidade de São Paulo;

2. a retirada imediata da Polícia Militar do campus;

3. que a nova administração adote uma medida firme para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;

4. que se inicie também imediatamente um processo estatuinte democrático.

São Paulo, 10 de junho de 2009.

Adusp – Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

diretasprareitor

::

NOTA PÚBLICA DA ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO USP/Capital – 4 de junho de 2009

A Universidade de São Paulo, campus Butantã, desde o início desta semana, vem servindo de cenário para insólitas operações da Polícia Militar. Por pelo menos três dias, contingentes de policiais armados, colocaram-se a entrada de prédios de seus órgãos administrativos, faculdades, institutos, museus e bibliotecas. Essas operações seguem a execução de um pedido de reintegração de posse por parte da Reitoria da USP. Em nota, a medida é justificada sob o argumento de que o “funcionamento da universidade” teria sido transtornado por ações “isoladas”, “tumultuosas” e “violentas” de obstrução do acesso a prédios da universidade por “piquetes”, atribuídas a um “grupo de servidores”. A Reitoria, então, reivindica a sua responsabilidade em manter a regularidade do funcionamento da universidade.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP, em comunicado publicado no mesmo dia, respondeu à nota da Reitoria contestando as descrições e qualificações dadas às manifestações de seu movimento que, atualmente, encontra-se em greve, conjuntamente com os funcionários da UNICAMP, em prol de uma lista de reivindicações que eles não julgam contempladas pelas propostas do Cruesp. O SINTUSP afirma que nos acessos aos prédios citados só havia faixas com os dizeres “Estamos em Greve” e, em algum deles, encontravam- se também “Comissões de Orientação e Esclarecimentos”, compostas por funcionários das respectivas unidades que lá estavam por deliberação da assembléia dos funcionários da USP. As ações do movimento teriam sido todas baseadas em “decisões legitimadas em reuniões de unidades e assembléias gerais da categoria”.

choque

Fotos de batalhões policiais armados na USP colocam, agora, de maneira emblemática e à vista de todos, a cultura política vigente na atual estrutura de poder da USP diante das reivindicações da comunidade acadêmica. Emblemáticas porque condensam em imagem uma série de outras medidas que compõem um movimento mais amplo de avanço de forças reacionárias às demandas de democratização da universidade. Nesse sentido, basta lembrar que das últimas nove reuniões do Conselho Universitário (Co), cinco foram realizadas em área militar (IPEN), sob forte esquema de segurança. Some-se a isso, que tais reuniões foram marcadas por graves problemas na convocação da representação discente e de servidores, além de violações a normas regimentais, principalmente no tocante ao procedimento das votações. A recorrência desses fatos e as suas conseqüências extremamente anti-democráticas levaram a APG-USP/Capital a recorrer à Justiça, impetrando um mandado de segurança pedindo a anulação da reunião em que foi aprovado o orçamento da universidade para 2009.

Há ainda de se elencar o novo plano de segurança da USP, orçado em mais de 2,5 milhões de reais, tocado pelo ex-prefeito do campus, prof. Adilson Carvalho. Em reportagem de uma revista semanal, em que é fotografado ao lado de uma central de monitores de televisão com imagens da universidade e apelidado de o “xerifão do campus”, ele declara: “Apesar de muitos estudantes afirmarem o contrário, a polícia entra na USP sempre que é chamada”. Em outra reportagem, esta publicada no Jornal do Campus, instado a comentar a suspeita de um estudante de que o sistema de câmeras de segurança pudesse se reverter em “uma forma de vigiar o movimento estudantil”, o Prefeito nega, mas relativiza: “Elas vão ser usadas, claro; para identificação quando houver excessos.” As recentes políticas de segurança da USP precisavam de um esclarecimento: a presença da polícia no campus são necessários diante dos problemas enfrentados pelos freqüentadores da Cidade Universitária ou são instrumento de investigação e perseguição política? Contudo, infelizmente, não foi nos dada a oportunidade de ouvir as razões da Prefeitura do Campus, que negou o pedido de audiência pública feito formalmente pela APG-USP/Capital, em Conselho Universitário realizado no dia 30 de setembro de 2008.

Podemos ressaltar, ainda, as sindicâncias sofridas por alunos que participaram da ocupação da reitoria de 2007; as diversas restrições, por parte dos órgãos administrativos da universidade, ao uso dos espaços do campus pelos estudantes e suas diversas entidades; a invasão da Faculdade de Direito do Largo São Francisco pela Tropa de Choque em agosto de 2007; a implantação de catracas; a censura realizada diretamente pela reitoria ao STOA (fórum digital da USP); as demissões sumárias de servidores e diretores de sindicato dentro da universidade. Poderíamos continuar listando inúmeras outras manifestações da atual política vigente na USP, porém preferimos voltar nossa atenção ao movimento mais amplo a que todas elas remetem.

choqueflores

Em 2007, começou a transcorrer nos Conselhos Centrais da USP a discussão sobre a reforma do Estatuto da USP. As forças do movimento pela democratização da universidade –representadas pelo movimento de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos– encontrava-se, então, completamente alijado do processo de discussão da reforma do Estatuto. A principal conquista do movimento de ocupação da reitoria de 2007 foi o compromisso, por parte da reitoria, de realização do V Congresso da USP, que acabou sendo agendado para maio de 2008. Esse movimento voltou para o V Congresso as suas esperanças de se articular em torno de um projeto concebido democraticamente por todos os segmentos da universidade, conseguindo, assim, disputar o processo de reforma do estatuto da USP, já em curso naquele momento. Na melhor das hipóteses, ganharia força o projeto de uma estatuinte democrática. Como bem se sabe, o V Congresso não se realizou porque a reitoria não liberou, em sua totalidade, o segmento dos funcionários. A não-realização do V Congresso foi a senha para que os grupos descontentes com as conquistas do movimento de ocupação da reitoria e, mais particularmente, com a idéia de se ampliar a discussão da reforma do estatuto, avançasse para estabelecer a sua hegemonia política dentro da universidade. O marco –não só simbólico, mas também jurídico– desse acontecimento foi o Conselho Universitário extraordinário do dia 28.05.08, o primeiro a ser realizado no IPEN, com graves problemas na convocação da representação discente e dos funcionários.

A pauta se resumia à discussão de um parecer elaborado pela Comissão de Legislação e Recursos (CLR) do Co respondendo a uma consulta, a posteriori, sobre um pedido da Reitoria da USP pela entrada da polícia militar no campus. O prédio da reitoria encontrava-se, naquele momento, obstruída por manifestantes que reivindicavam o agendamento de uma nova data para a realização do V Congresso, desta vez, com a previsão expressa de liberação dos funcionários. A relatoria do parecer foi feita pelo presidente da CLR, prof. João Grandino Rodas. O parecer não só respaldava a medida da Reitoria, como insinuava que houve etapas desnecessárias para se chegar a ela, como a do diálogo: “…houve um pedido escrito e oficial de desobstrução, entretanto, essa desobstrução (acredito que aqui a referência seja na verdade ao pedido de desobstrução) não se fez antes de possibilitar o diálogo, coisa que nem seria necessária – um diálogo nas circunstâncias, justamente porque a obstrução não tem fundamento, em absoluto, ela é ilegal por natureza”. Havia também o diagnóstico de que vigeria na universidade uma “tradição de uma benevolência exagerada”, remontando talvez “algumas décadas”, que comprometia o funcionamento da universidade. Na parcela mais jurídica do parecer, ponderava-se que a necessidade da constância no funcionamento da universidade estava prevista em lei e que a prerrogativa de assegurá-la era função da reitora. O argumento chega a soar, ao menos para quem lê a ata da reunião, quase como uma ameaça: “deve existir, sob forma de responsabilização, um rigor no cumprimento do calendário, ou seja, da não obstrução dos órgãos centrais da Universidade”. A responsável, neste caso, seria a Reitora que por ser “a autoridade administrativa máxima… é responsável legalmente pelo que faz e pelo que deixa de fazer….”.

Mesmo professores com uma história recente de fortes atritos com o movimento estudantil e dos servidores, mas minimamente zelosos pela tradição democrática dentro da universidade, diante do precedente que estava prestes a ser a aberto – cuja conseqüência não era outra que a legitimação da entrada da polícia no campus – fizeram falas no sentido de tentar adiar a votação do parecer da CLR. No entanto, o parecer foi colocado em votação e aprovado por ampla vantagem. Desde então, a cultura universitária do diálogo, da crítica, da manifestação e da discussão está em xeque, podendo ser suspensa quando, oportunamente, forem verificados “excessos”, bastando um chamado para o uso da força e da intimidação armadas. Os episódios desta semana são prova disso.

choque1

Na já mencionada nota da reitoria a respeito da ocupação militar desta segunda, a referência ao parecer de março do ano passado da CLR é patente, ao invocar a “responsabilidade de garantir o funcionamento da universidade”. Queremos deixar claro que não estamos fazendo, aqui, a insinuação de que a reitora esteja agindo como está agindo por estar sendo pressionada a tomar esta atitude. Afinal, se o constrangimento for efetivo há sempre a possibilidade de se renunciar ao cargo. Contudo, a forma como a reitora rifou as forças mais democráticas que lhe ajudaram na eleição, depois de se julgar assegurada no cargo, apontam que dificilmente há qualquer crise de consciência nas medidas que vêm sendo tomadas.

Para nós da APG-USP/Capital, somente uma idéia bastante prejudicada de universidade pode levar a acreditar que seja possível assegurar o seu “funcionamento” através do medo e do constrangimento, físico ou moral, imposto por uma força policial armada nas suas dependências. Um juízo desses chega ao mínimo possível da escalada em que foi reduzindo vertiginosamente o âmbito do que é o “funcionamento da universidade”. Essa idéia é a expressão mais dramática do patamar medíocre em que se encontra, para alguns, a discussão sobre o que significa o “funcionamento da universidade”. Para os que prezavam o sentido de uma cultura universitária, está claro que nos últimos anos abriu-se mão da interação com a comunidade a sua volta, da convivência em seus espaços, do seu lugar como espaço público e cultural da cidade em nome do “funcionamento da universidade”. No momento, vemos aonde chega esta concepção: o “funcionamento da universidade” seria a mera conservação vegetativa de seu metabolismo burocrático; uma estrutura de poder que só se mantém em pé porque se assenta sobre um pesado jogo de interesses, que se fosse minimamente legitimado pela comunidade uspiana não precisaria fazer a USP amanhecer tomada, em seus diferentes institutos, por centenas de policiais armados.

choque2

Também é nossa convicção que a principal carência para garantir o funcionamento da nossa Universidade – pensado aqui em uma chave que faça jus à pluralidade de manifestações políticas, artísticas e culturais que, aliada à prática científica, deve definir uma instituição universitária – não é a tropa de choque, mas uma radicalização da democracia na sua estrutura de poder.

Coordenadoria da APG-USP/Capital, 4 de junho de 2009

::

fotos: http://dceocupado.blogspot.com/

(por incrível que pareça todas as fotos foram tiradas na USP)

latuff_usp

::

COMENTÁRIO de PROFESSOR SOBRE A INVASÃO DA USP PELA PM

pm_na_usp7“O que aconteceu hoje é algo que deve nos mostrar claramente o que significa chamar a policia para dentro do campus. Muitos falam da PM como se tratasse de uma “policia inglesa” capaz de saber atuar com o mínimo de adequação em situações de conflito social e manifestação. Como foi demonstrado mais uma vez, nossa policia não tem a mínima condição de garantir a segurança de ninguém. Enquanto Policia Militar, ela é formada para agir como militares em confronto com inimigos em situações de segurança externa. Ela entra no campus como entra nas favelas, ou seja, seguindo o lema “atirar primeiro, pensar depois”.

Suas práticas são mundialmente conhecidas e desprezadas. Ela é exemplo mundial de policia despreparada, corrupta e que mata gratuitamente. Mais de uma vez ela mostrou que sua atuação gera catástrofes, isto ao invés de impedi-las. Gostaria de insistir que nossos alunos correm risco real de vida e isto está acima de nossas diferenças. Temos a obrigação moral de deixarmos nossas divergências de lado e fazermos de tudo para retirar a polícia do campus de uma vez por todas, com a promessa de que ela nunca mais será chamada, aconteça o que acontecer.

Não haverá análise ou explicação que justificará um corpo de aluno morto e creio que hoje vimos que tal possibilidade não é uma ilusão criada para dramatizar conflitos sociais.

Prof. Dr. Vladimir Safatle

::

CELSO LUNGARETTI COMENTA A BATALHA DA USP

SENHOR CIDADÃO, QUE VIDA AMARGA!

serra“Senhor Cidadão,
eu e você
temos coisas até parecidas:
por exemplo, nossos dentes,
da mesma cor, do mesmo barro.
Enquanto os meus guardam sorrisos,
os teus não sabem senão morder.
Que vida amarga!”
(“Senhor Cidadão”, Tom Zé)

Senhor Cidadão, não adianta colocares toda tua máquina de comunicação, inclusive a mídia que te é subserviente, para embaralhar os fatos, atirando sobre funcionários, professores e estudantes da USP a culpa pela batalha campal que teve lugar na Cidade Universitária, igualzinha àquelas dos tempos ásperos da ditadura militar, quando eu e você tínhamos coisas até parecidas: pelo menos nossos ideais, da mesma cor vermelha e moldados no mesmo barro da solidariedade para com os explorados.

Só que, enquanto eu os defendia nas ruas, os teus passos te levaram para bem longe, onde não havia sustos, nem companheiros tombando ao teu lado, nem o teu sangue corria risco de ser derramado pela causa.

Talvez advenha daí o teu rápido esquecimento daquilo que continua impresso indelevelmente na minha mente: as lições aprendidas na luta.

Uma delas é a de que, quando manifestantes e tropas de choque estão frente a frente, o conflito acaba sempre ocorrendo. E a imprensa patronal acaba sempre culpando os “baderneiros” e fechando os olhos à bestialidade dos fardados.

E o pior é que nem uns, nem outros são os verdadeiros culpados. A responsabilidade é de quem arma o tabuleiro dessa forma.

Caso do episódio desta terça-feira (9). Pois não havia necessidade nenhuma de se designarem os mais truculentos efetivos da Polícia Militar para o acompanhamento de uma manifestação pacífica, na qual o pessoal da USP distribuiria flores aos transeuntes, faria os discursos de sempre e depois se retiraria, como sempre, com a sensação de dever cumprido daqueles que tiveram brio de protestar contra as injustiças.

Mas, foram as odiadas e odiosas tropas de ocupação que o teu governo colocou em cena, o que só poderia ser tomado como uma provocação por aqueles que estavam lá exatamente para protestarem contra a presença de tropas de ocupação na universidade (o último lugar onde elas deveriam estar!).

E deu no que deu, Senhor Cidadão: essas imagens chocantes que jamais deveriam se repetir em plena democracia, mas servem ao teu propósito de convencer a direita que és confiável. Agora, no teu afã de angariar apoios para a corrida presidencial, provastes aos inimigos de outrora que não há nada, absolutamente nada, que deixarás de fazer.

Foi como se dissesses aos reacionários: “às favas todos os escrúpulos de consciência!”. Lembras? Trata-se da frase que definiu o papel histórico do coronel Jarbas Passarinho, aquele que era teu antípoda há quatro décadas e hoje, talvez, nem tanto…

Que vida amarga!

Jornalista, escritor e ex-preso político, Celso Lungaretti mantém os blogues http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/
http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/

::

charges: Carlos Latuff

http://latuff2.deviantart.com/ http://br.geocities.com/mcrost00/20040819c_cartuns_de_carlos_latuff.htm