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Monthly Archives: fevereiro 2010

Na última semana, entre as diversas atividades organizadas pelo Grêmio dos estudantes da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) para a recepção aos novos estudantes que chegaram à faculdade, aconteceu uma visita para discutir o “corredor das humanas”. O corredor das humanas foi um projeto pensado por uma série de arquitetos modernos para o campus da Cidade Universitária na década de 60, no período de efervescência cultural que antecedeu o golpe militar de 1964.

Arquitetos como Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Carlos Milan pensavam um conjunto de edifícios como um grande eixo estruturador na USP, que reuniria todos os prédios das “humanidades”. Os saberes seriam integrados pelos grandes vãos, criando um único caminho que atravessava e ligava todos os prédios. A universidade era pensada por esses arquitetos como um espaço do livre saber. Eles projetaram grandes bibliotecas, teatros, museus, espaços estudantis, e amplos salões vazios para serem ocupados por atos, assembléias, festas, debates e o que mais a própria comunidade universitária desejasse; sem barreiras entre as atividades, entre as áreas do conhecimento, em espaços amplos e abertos a todos, contra a frangmentação da academia, a universidade enquanto TERRITÓRIO LIVRE. 

A visita começou na FAU, que além da História/Geografia foi o único edifício construído dentro desse projeto libertário de universidade, e que por isso mesmo incomoda tanto a burocracia dirigente da universidade, que vive fechando, loteando e mutilando o edifício. O prédio da FAU sempre foi ocupado por festas, shows, debates, assembléias. Os espaços livres de Artigas abrigam os mais variados usos, uma universidade para além das salas de aula. 

Depois da FAU os estudantes chegaram aos prédios da Letras e da Sociais/Filosofia, que deixam clara a negação total do projeto do corredor das humanas pela ditadura militar. São edifícios construídos para serem “provisórios”, e que parecem projetados para evitar atividades estudantis: sem vãos livres; sem comunicação entre os espaços; todos emparedados; com poucos acessos; feitos apenas de corredores, saletas e salas de aula. A impossibilidade total das aglomerações. 

Hoje, apesar do fim da ditadura, a arquitetura libertária de 60 está sendo substituída pela arquitetura do shopping. A principal obra de arquitetura na USP em 2006 foi a construção, ao lado do prédio-shopping da FEA, de uma praça de bancos. E para dar espaço à privatização da universidade as Reitorias e Diretorias têm aumentado violentamente a repressão, retirando direitos e liberdades estudantis que vão desde a liberdade de colar cartazes e fazer festas até o direito aos espaços estudantis.

Na FAU, o piso do museu, espaço designado aos estudantes no projeto de Artigas está ameaçado. O piso, que sempre abrigou as atividades livres dos estudantes; desde debates sobre o ensino, a arquitetura e a cidade até mostras de filmes, exposições, festas; e sempre possibilitou a livre produção dos estudantes, como publicações, cartazes, música, teatro, cinema, pode ser retirado. O projeto da burocracia é transformar o piso do museu em um espaço capaz de abrigar grandes exposições internacionais, emparedado, envidraçado e climatizado.

Na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) a ameaça aos espaços estudantis é ainda mais concreta. Na calourada de 2007 os estudantes derrubaram a jaula que o diretor Gabriel Cohn havia construído para fechar o porão, espaço onde os estudantes organizavam festas, passavam filmes e faziam reuniões. Um ano depois da derrubada da jaula, Gabriel Cohn concretou, nos feriados do final do ano, o espaço estudantil. Simplesmente construiu uma laje de concreto impossibilitando o acesso ao porão. Agora, a Diretoria da FFLCH está gastando mais de R$ 10 milhões para remendar com puxadinhos os prédios da ditadura, mantendo as mesmas características espaciais e ainda retirando os espaços estudantis existentes.

Ao final da visita os estudantes da FAU foram até os prédios do CRUSP (Conjunto Residencial da USP), construído também na década de 60. Em seu projeto original, a marquise que liga os blocos de habitação dos estudantes era prolongada por um passeio subterrâneo para chegar ao corredor das humanas, completando aquele projeto, em que a vida e produção dos estudantes se relacionavam diretamente. 

Diante da barbárie dos projetos atuais na universidade, em que a burocracia acadêmica mantém (ou piora!) os espaços da ditadura, a retomada do corredor das humanas coloca a necessidade dos estudantes se organizarem contra a universidade-shopping, por um novo projeto libertário de universidade, a universidade da maioria, o território livre.

Fonte_

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FONTe  http://paginasverdes.org/

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O que esta experiência propicia são novas relações sociais. Sentimentos de pertença e sorrisos infantis que participam e se alegram. Politização pela arte e arte politizada. Expressão cultural e reivindicação expressa de novos tempos. Encontro de pessoas e pessoas que se encontram na própria origem. Por Tiarajú – Mestre de Bateria 

Foi Candeia quem avisou: outra escola de samba é possível. Eram meados da década de 1970, e as escolas de samba já haviam entrado no circuito da mercantilização e na ditadura do visual. Processos estes que, com o passar do tempo, viriam a se aprofundar. Candeia, bom sambista que era, não gostou. Fundou ele mesmo uma escola de samba, a G.R.A.N. Quilombo, cujo objetivo principal era defender a participação do povo com suas manifestações culturais dentro das escolas de samba. 

Passadas algumas décadas, é da mão daqueles que pensam que outra sociedade é possível, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, que se articula um outro formato de escola de samba: a Unidos da Lona Preta. 

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Crianças da Comuna Urbana de Jandira

 

Fundada em 2005, a Unidos da Lona Preta surge com o objetivo de congraçamento militante, de festejo compromissado. Num tempo de desesperança, de indivíduos individualizados, percebia-se como o encontro e o fazer coletivo são elementos fundamentais para a construção do reconhecimento de pertença e o auto-reconhecimento enquanto classe. E de fato, o samba desde sempre fundamentou esse reconhecimento. Eis que a Unidos da Lona Preta se consolida. E apesar das dificuldades, existe bravamente. 

Em meados do ano de 2008, percebe-se a necessidade de realizar um salto qualitativo no âmbito dessa expressão cultural. Algumas mudanças ocorrem: os ensaios passam a ser realizados na Comuna Urbana Dom Hélder Câmara, em Jandira, que passa a ser a sede e referência da escola; os ensaios de bateria passam a ter regularidade; forma-se uma roda de samba, a Comuna do samba; inicia-se um processo de formação que envolve samba, literatura e política; buscam-se apoios e fazem-se rifas para a compra de mais instrumentos; envolvem-se jovens de todos os assentamentos e da vizinhança da Comuna Urbana; convidam-se aliados do MST para participar das atividades. Tantas mudanças, somadas à empolgação e ao desejo de concretizar o esforço coletivo culminaram na confecção de um samba-enredo coletivo, o já famoso Avante Juventude, e, por fim, no apoteótico desfile de 20 de fevereiro de 2009, com 500 pessoas tomando festivamente as ruas de Jandira. 

Mas o carnaval, como sempre, passou… todos e todas dormiram depois da festa, e ao acordar, o mundo seguia igual, com suas mazelas, injustiças e misérias. O sucesso do processo coletivo até o carnaval e do próprio desfile eram irrefutáveis. Mas era necessário ir mais além. A Unidos da Lona Preta passa a pensar o mundo e a pensar-se com mais rigor. Era necessário entender esse estar no mundo. Dúvidas surgem, dilemas se colocam. O próprio processo nos perguntava para onde caminhar. Como o samba, com muitos instrumentos, mas sem ser instrumentalizado, ensaia a bateria e o processo de transformação social? Como a arte se coloca no mundo, questionando-o para além do simbolismo estético? Seria possível aliar poesia e porrada? 

Tantas perguntas oriundas de tanto fazer… e as respostas vão se apresentando aos poucos, como as rimas perfeitas para o desenlace das estrofes. 

A Unidos da Lona Preta não faz samba-festinha, faz samba-luta.
Arte popular não é indústria cultural assim como cuíca não é teclado.
Nosso grupamento carnavalesco é uma escola de samba, e não um bloco. 

Mas então – perguntaram-nos alguns – para ser escola de samba terão que ter dinheiro, brilho e mulher pelada? A resposta foi rápida e simples: quem disse que escola de samba é somente o pastiche visual vendido pela transmissão da televisão? E quem disse que as escolas de samba sempre foram entremeadas por financiamentos e hierarquias? Hoje as escolas de samba têm um formato que de fato não é o que mais propicia a participação popular. É uma totalidade contraditória assim como nossa sociedade. Mas quando a Unidos da Lona Preta deixa de se pensar como escola de samba é porque aceita que só existe o formato hegemônico atual para essa expressão cultural. Então vamos disputar o conceito sim, porque a Unidos da Lona Preta ensina samba, então é escola de samba. E ponto final. 

Nosso samba é resistência, mas não fica nesse reducionismo romântico. O samba é ataque e contra-ataque também. Tabelinha bem feita na entrada da área e chute certeiro no ângulo. Olhem a proliferação de amantes do gênero. Percebam a existência de rodas de samba nos quatro cantos e quatro ventos. Verifiquem a quantidade de comunidades do samba que surgiram nos últimos anos em toda São Paulo, fenômeno social derivado justamente da mercantilização das escolas de samba. Percebam que mesmo mercantilizadas, industrializadas e financeirizadas, as escolas de samba seguem lotadas e mantendo comunidades próprias (apesar da TV e das modelos…). Quadro complexo companheiros… samba não quer compadecimento de ninguém porque, concretamente, não precisa. 

Para o carnaval de 2010, a Unidos da Lona Preta afinou ainda mais seus instrumentos político-percussivos. Uma série de debates com batucadas sobre a denominada Questão Urbana será o manancial fértil para a composição coletiva do samba enredo. A idéia é que todos e todas as participantes se apropriem do tema a ser cantado e contado. Este processo visa fazer diferente do processo de confecção do desfile das escolas de samba atuais, que é alienado e alienante uma vez que não permite que o seu produtor, ou seja, o compositor, o ritmista e o folião, se aproprie do produto final de sua própria produção cultural. Hoje em dia, o participante de uma escola de samba executa um projeto por outro construído, ou seja, alheio a si mesmo, e sendo apenas parte de um todo que este produtor não tem possibilidade de entender e acessar. Todo esse processo descrito vincula-se também à própria profissionalização do carnaval e ao caráter competitivo do mesmo, o que se desdobra na dependência das escolas com relação às ligas e aos patrocínios que condicionam o fazer artístico. Na tentativa de defender a liberdade de expressão e manifestação artística, a Unidos da Lona Preta optou também por não participar de concursos nem fazer parte de ligas de escolas de samba. Pois é compas, como podem notar, fazer samba-militante é cansativo, exige decisões, escolhas, mas é mais gratificante também. 

No fundo, o que esta experiência propicia são novas relações sociais. Sentimentos de pertença e sorrisos infantis que participam e se alegram. Politização pela arte e arte politizada. Expressão cultural e reivindicação expressa de novos tempos. Encontro de pessoas e pessoas que se encontram na própria origem. Candeia já tinha avisado: um povo sem passado é um povo sem futuro. E nós, humildemente, mas convictos, vamos fazendo nossa parte. 

Unidos da Lona Preta, a luta fazendo o samba; o samba fazendo a luta.

confira o samba em videos e fotos.

Fonte: Passa Palavra

“As nossas vidas, as nossas culturas, são compostas por muitas histórias sobrepostas. A romancista Chimamanda Adichie conta a história de como descobriu a sua voz cultural – e adverte que se ouvimos apenas uma história sobre outra pessoa ou país, arriscamos um desentendimento crítico.”

Fonte: TED 

(por esse link é possível ver o mesmo video com legendas em português)